quinta-feira, 13 de março de 2014

STANLEY KUBRICK, O GÊNIO INDOMÁVEL - PARTE 2




O ILUMINADO, um clássico do terror, referência até hoje para os amantes do gênero, não era tão clássico enquanto existia apenas o livro de Stephen King. Stanley Kubrick fez isso. 

O título foi inspirado em uma música de John Lennon chamada "Instant Karma!", que contém a frase "We all shine on…". Stephen King quis originalmente dar o nome ao livro de "The Shine", mas mudou o nome quando percebeu que "shine" era gíria pejorativa para negros. Esse foi o terceiro livro de Stephen King e primeiro best-seller em capa-dura. 




King nunca gostou da versão do diretor; disse que sua obra foi profundamente modificada. Kubrick não queria adaptar fielmente. Ele via o potencial da história, mas que, também, tinha suas limitações. O seu gênio criativo fez com que o enredo fosse permeado de inúmeras sutilezas, infinitas possibilidades de enxergar uma mesma coisa. O livro segue uma linha reta. O filme tem um bocado de paralelas e perpendiculares a acompanhar.




Ele queria realizar o melhor filme de ficção de todos os tempos. Fez 2001. Uma das melhores películas sobre guerra: Glória feita de Sangue. O maior épico: Spartacus. Faltava a maior e melhor produção de terror de todos os tempos. Faltava.




Para tentar desqualificar a realização de Kubrick, Stephen King adaptou seu próprio livro nos anos 90, mas em forma de minissérie para a TV americana. Desta feita, extremamente fiel ao livro; e incrivelmente enfadonho. Todos já conheciam a versão do famoso diretor. A comparação foi inevitável. Infelizmente, pouco favorável ao escritor e criador da mitologia do livro.




Já na película, tudo o que se conhecia sobre filmes de horror e suspense caíra por terra. O mal não estava encarnado. Também não era escancarado. Sutil, a princípio, mas que foi se delineando aos poucos, numa atmosfera claustrofóbica.




Jack Nicholson, com seu olhar satânico e seus trejeitos assustadores, nunca mais foi o mesmo. Pergunto-me o que seria do ator Heath Ledger, que interpretou o Coringa na trilogia Batman, se fosse dirigido por alguém perfeccionista e extremamente detalhista como Kubrick, que leva um ator a repetir, exaustivamente, a mesma cena 100 vezes –fez isso com Nicholson.




Sua genialidade faz do enredo algo grandioso. O livro é ótimo, mas o filme é primoroso. O estereótipo era evidente para quem leu, mas não para quem assistiu. Além de ser prova cabal de que um filme pode ser infinitamente superior ao livro. 

Recheado de referências e sutis detalhes, O ILUMINADO até hoje suscita debates, chegando até a gerar um documentário falando sobre os bastidores e os pormenores que Kubrick deixa, propositalmente, na tela, esperando ser decifrado. Vale conferir QUARTO 237. Foi realizado por amantes da sétima arte e cada um com sua visão peculiar e suas teorias de conspiração sobre a obra.




Depois de O Iluminado realizado em 1980, Kubrick deu uma (longa) pausa, como era usual, em sua carreira. 
Voltou em 1987 com o polêmico NASCIDO PARA MATAR. O roteiro é baseado em romance de Gustavo Horsfordita, The Short Times. É considerado um dos grandes filmes sobre a guerra do Vietnã, junto com Platoon e Apocalipse Now e um dos melhores filmes do cinema da década de 1980, com uma posição que pode ser interpretada como sendo antiguerra. Mostra a desumanização da sociedade e o conseguinte culto a violência, como forma de dominação plena.

Com excelentes interpretações, um roteiro contundente e a sempre magistral direção de Kubrick, o filme só não foi o sucesso que se esperava, porque foi lançado meses após PLATOON, de Oliver Stone, que causou frisson e colecionou prêmios, entre eles 4 Oscars, incluindo o de melhor produção.




Apenas 12 anos depois, é que Stanley realizou outro filme. DE OLHOS BEM FECHADOS é estrelado pelo então casal na vida real Nicole Kidman e Tom Cruise e baseado no conto Traumnovelle, de Arthur Schnitzler. Conta a história do médico Bill Harford que decide ir em busca de uma aventura sexual depois de sua esposa Alice admitir que sentiu desejos por outro homem. Ao longo de uma noite, Bill acaba encontrando com uma orgia organizada por um culto secreto.




Talvez por já estar com a saúde debilitada, talvez pelo casal escolhido para os papéis principais, ou pela adaptação do libro em si, o certo é que o público não foi tão receptivo. A crítica aprovou, seguindo o caminho inverso das outras vezes, quando Kubrick lançava uma película e já caiam matando. Isso incluiu 2001, SPARTACUS e LARANJA MECÂNICA. Mas os espectadores captavam bem melhor do que os profissionais de cinema, com suas visões tacanhas. 

Mais uma produção difícil que durou quase dois anos para ser concluída, devido ao perfeccionismo do diretor, e mais um ano para o trabalho de pós produção. Stanley Kubrick faleceu apenas 5 dias depois de concluir a edição final do filme, em 7 de março de 1999. 
Ele deixou um projeto pendente, chamado I.A. – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. Como era algo em que Kubrick já havia demonstrado interesse, o roteiro teve continuidade, mas nas mãos de Steven Spielberg, acostumado a infantilizar temas adultos, em prol de uma polpuda bilheteria. O resultado ficou evidente quando a produção, encabeçada por Haley Joel Osment e Judy Dench, chegou aos cinemas: decepção.
Todos sabiam que uma história interessante como esta teria uma versão completamente diferente de Stanley.




Após março de 1999, o cinema ficou mais pobre. As produções mais intercambiáveis e as ousadias poucas. Num mundo do faz de conta como o cinema, uma pessoa como Kubrick deixa uma lacuna impossível de ser preenchida. 




Mas também a prova cabal de que, um diretor com apenas 13 filmes no currículo, pode ser diferenciado e trafegar em todos os gêneros com a mesma maestria. 
Tivéssemos mais dois ou três como Stanley Kubrick por aí, e o cinema não estaria assim vivendo dias de “mais do mesmo”.



Acompanhe também:

STANLEY KUBRICK, O GÊNIO INDOMÁVEL - PARTE 1



2 comentários:

  1. Pois é Marcelo! I.A. foi mesmo uma decepção, se não me engano tinha algo de superbrinquedos duram o verão todo, seria magistral, ao invés de filminho de Sessão da Tarde!

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  2. Verdade, Emerson. E essa pirotecnia deu um ar mais abobalhado a um filme que poderia ser adulto, a lá Kubrick. Pena que não foi possível. Um agrande abraço

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