sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A Época de Ouro do Rock Nacional




Ao acompanhar uma entrevista, em tom de desabafo, de Dado Villa-Lobos, ex guitarrista da Legião Urbana (confira AQUI), constatei que a era de ouro do nosso rock passou; e não há sinais de que isso mudará em curto ou médio prazo.




  Oriundo de uma época fantástica do rock brazuca, ele tem sabedoria e bagagem de sobra pra criticar o sistema.

  Mas após sua entrevista, me bateu um saudosismo...E não é pra menos. Havia várias bandas que faziam a cabeça da molecada dos anos 80. Uma geração que revelou inúmeros talentos e marcou a história da nossa música. 




                             (a banda que praticamente iniciou o movimento do rock dos anos 80)

  ANOS 80 -

  O movimento começou no Circo Voador no Rio e se espalhou. Acabou se alastrando pelo país inteiro e nos brindou com bandas fantásticas e composições que marcaram o cenário musical.





Com a irreverência da Blitz pode-se dizer que esse ciclo foi, oficialmente, iniciado. Era o momento certo com as condições apropriadas. E não há hora melhor quando um roqueiro está determinado e "com fome", ou seja com gana e vontade de mostrar seu trabalho. Lobão era o batera e foi quem deu nome à banda. Não permaneceu por discordância com os rumos do grupo, mas já havia feito parte da fundação da Blitz.







 Evandro Mesquita, Fernanda Abreu e cia. não despontaram sozinhos. Capitaneados por Cazuza, o Barão Vermelho tinha um estilo único e a voz inconfundível de um cantor fadado a se tornar maior que a própria banda. A irreverência da Blitz tinha companhia, porém mais apimentada.




  A tríade que começou no Circo tinha ainda o grupo Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, cujo o casal Paula Toller e Leoni eram os principais compositores. Dividiram os vocais muitas vezes e a mesma casa. Mas tudo foi por água abaixo, quando não conseguiram mais separar a vida profissional da sentimental. Leoni foi convidado a se retirar, Paula tocou a vida, então de namorado novo (Herbert Vianna) e a banda passou a se chamar apenas Kid Abelha. Continuaram a colecionar hits nas paradas de sucesso, mas suas composições já não eram as mesmas sem o antigo baixista. Ainda assim, a banda marcou seu nome no movimento.








Antes de ser baterista da Blitz e de ter sua banda própria, Lobão teve, com Ritchie e Lulu Santos, além do ex tecladista do Yes, Patrick Moraz, a banda Vimana, que teve dois discos apenas. Após a tumultuada separação os três saíram em carreira solo.

 Com os Ronaldos, João Luis (o Lobão) conseguiu se firmar como um compositor tremendamente politizado e crítico. Arranjou desafetos, principalmente entre políticos (a música "O Eleito", feita para Sarney e "Presidente Mauricinho" para Collor, dão uma noção do tamanho de sua indignação). Brigou muito com a indústria fonográfica, mostrando que era irascível até na hora de lutar pelo direito de compor e divulgar, sem as amarras do jabá. Mas só não o chame de roqueiro hoje em dia. Ele recusa o rótulo e o passado musical. Lobão se tornou representante da direita mais reacionária do país e um colunista da Revista Veja. Fundo do poço pra qualquer um com o mínimo de ética profissional.





  Com uma parceria de sucesso com Nelson Motta, Lulu Santos conseguiu conquistar o público. Mas com "Tempos Modernos" e "Como uma Onda", seu nome ficou marcado definitivamente na história do pop/rock dos anos 80. Seu estilo era diferenciado e sabia escolher músicos e arranjos que caíam no gosto do público. 

Ele sempre quis fazer um pop com a cara do Brasil, mais distanciado do gênero britânico, tão em voga nos anos 80. E foi bem sucedido. Sucesso após sucesso, Lulu ganhava uma legião de fãs e suas composições ganhavam as paradas musicais. O estilo nem de longe lembrava sua primeira banda, o Vimana, que contava com Lobão e Ritchie.






 Os integrantes dos Paralamas do Sucesso, apesar de crescerem no Rio de Janeiro fizeram carreira em Brasília, onde conheceram Legião e Plebe Rude, bandas politizadas e que ajudaram a fomentar o rock brazuca.

  Primeira banda a mesclar rock com Ska jamaicano,  o grupo liderado por Herbert Vianna conseguiu ser sucesso de público e crítica, com composições que iam de crítica social a sons que bebiam na fonte da MPB. Assim como Barão e Blitz, o trio foi um sucesso na 1ª edição do Rock in Rio, em 1985.






Léo Jaime iniciou a carreira no grupo de rockabilly João Penca e seus Miquinhos Amestrados e em seu primeiro disco solo (Phodas 'C') de 1983 mostrava logo de cara músicas com letras sacanas (Sônia) e com  inspirações na Jovem Guarda.

  Seu segundo disco (Sessão da Tarde) teve uma dedicatória dele para seu ídolo Erasmo Carlos, o Tremendão.

  Refém de seus próprios sucessos da década (e não foram poucos), Léo teve dificuldade em permanecer na mídia e, conseguinte nas rádios. Tal qual Lobão, os maganos da gravadoras só queriam lançar coletâneas dos sucessos passados, limitando a criatividade do cantor.

  Além de compor trilhas sonoras para o cinema tupiniquim, como Rock Estrela e As 7 Vampiras, se aventurou pela crônica esportiva e pelas novelas.




 Para comprovar que o rock não tinha limites territoriais (indo além de Brasília, Rio e São Paulo), a banda baiana do Camisa de Vênus era a essência do puro rock. Sem muitos acordes diferentes, com um teor corrosivo em suas composições e um sucesso abre-alas como "Bete Morreu" tínhamos uma prova de que o grupo tinha vindo pra ficar --além do nome da banda, incomum e proibido para a época, que recebeu censura interna da Som Livre que lhes ofereceu um contrato, desde que mudassem o nome e incluíssem mais 'MPB' nas composições. Como bom roqueiro, Marcelo Nova, vocalista, mandou os caras às favas, conseguindo manter a independência e seguir em frente com a carreira, sem ter que abdicar de seus princípios.

  Ainda nos anos 80, depois da dissolução da banda, após gravar o disco que seria o mais censurado da história ("Viva", inteiramente gravado no Caiçara Hall, em Santos e o derradeiro "Duplo Sentido"), Nova se uniu ao seu ídolo de adolescência Raul Seixas, e fizeram "A Panela do Diabo", ótimo disco, que acabou sendo a despedida de Seixas, que viria a falecer em agosto de 1989.






  Conhecidos no início de carreira como "Titãs do Iê-Iê-Iê", a banda passou a chamar apenas Titãs e deu uma guinada para o punk, após seu primeiro disco homônimo.

  Mas foi com seu 3º disco "Cabeça Dinossauro" que o grupo ascendeu ao panteão das bandas clássicas brasileiras. Emplacando sucesso após sucesso, serviu também para mostrar ao mundo quem eram os integrantes. Críticas pesadas contra a violência ("Polícia" e "Estado Violência"), a música libertadora de Arnaldo Antunes e Nando Reis, "Igreja", onde eles se reservavam no direito de expressar religião alguma, até as críticas sociais como "Homem primata" e Família".

  Na sequência emplacaram mais dois discos antológicos (além de um ao vivo, gravado no Festival de Montreaux), "Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas" e "Oblésq Blom". Era a consolidação de uma banda tão questionada no começo de carreira.

  Com a saída de Arnaldo Antunes, a morte de Marcelo Fromer, a  desistência de Charles Gavin e a  'expulsão' de Nando Reis, os Titãs pareciam uma outra banda e perderam a identidade, mas seus primeiros discos ainda são preciosidades na história do rock tupiniquim.



  O Ultraje a Rigor conseguiu uma façanha nos anos 80: do disco de estréia, com 11 músicas, conseguiu emplacar 10 nas paradas de sucesso. Um recorde absoluto. E não era para menos. Esse disco que foi uma compilação de compactos do início da carreira, mais algumas inéditas, deu um lugar de honra para o Ultraje no cenário nacional.

  A banda teve sua formação mudada várias vezes, mas o vocalista Roger Rocha Moreira é o único a permanecer desde a origem. Roger também sofre com comparações inglórias, por causa do disco de estréia, já que nunca mais conseguiu realizar nada tão criativo ou emplacar a banda no topo como fizera antes. Hoje o grupo foi reduzido a banda de apoio do programa do Danilo Gentili. Uma pena.



A Plebe Rude talvez seja a banda mais politizada do cenário musical brasileiro. Bebendo na fonte do punk inglês, a Plebe iniciou com a Turma da Colina, onde conheceram os Paralamas (que teve no vocalista Herbert Vianna, produtor de seus dois discos) e Aborto Elétrico, que originaria depois Capital Inicial e Legião.

  Mesmo abordando temas espinhosos, ainda mais pra época (como "Minha Renda", onde massacrava a indústria fonográfica e "Até Quando Esperar"), o grupo conseguiu frequentar as paradas de sucesso, os programas de rádio e até de TV.








O grupo Ira! se destacou no cenário underground paulistano. Com um guitarrista experiente que passou por várias bandas (Ultraje, Smack, Voluntários da Pátria, as Mercenárias), Escandurra era o motor da banda e o principal compositor e arranjador. E tinha com o vocalista Nasi uma sintonia perfeita. O maior hit, ainda sem tocar em rádios era a polêmica "Pobre Paulista", considerada por muitos como preconceituosa.

  Com a canção "Núcleo Base" a banda conquistava espaço nas emissoras (rádio e TV) e se credenciava para vôos mais altos. E mostrava as fortes influências do punk britânico, em especial The Clash.

  Isso possibilitou aos integrantes produzirem o melhor disco deles até hoje: "Vivendo e não Aprendendo", chegando, inclusive, a emplacar um tema de abertura de novela.





Criada a partir da separação do grupo Aborto Elétrico ( de um lado criou-se a Legião e de outro o Capital), a banda Capital Inicial conseguiu manter a atmosfera do rock brasiliense em seus primeiros discos.

  Dinho Ouro-Preto era o vocalista ideal pra banda e suas composições arregimentavam uma enorme quantidade de fãs.

  Os integrantes conseguiram de desvencilhar da imagem do Aborto e seguiram cadência própria na história do rock.





 Vinha do Rio Grande do Sul mais uma agradável surpresa do cenário roqueiro dos anos 80. Os Engenheiros do Hawaii mostravam composições bem criativas, uma mescla de rock com Ska e sonoridade inovadora. Humberto Gessinger despontava como um compositor/poeta do nosso rock, imagem consolidada em seus discos seguintes.







Banda que melhor soube unir o pop e o rock na época, o R.P.M. despontou como um furacão na música brasileira. Paulo Ricardo, baixista, vocalista e co-autor de inúmeras músicas era o catalisador do grupo. Atraía atenções da mídia que o via como um sex symbol, imagem que ele soube explorar como ninguém. Luiz Schiavon, talvez o melhor tecladista dos anos 80 e também co-autor das composições. A banda tinha tudo para ter vida longa, mas a velha máxima "sexo, drogas e rock and roll" os atingiu em cheio e o fim precoce foi inevitável. Mas o nome da banda já estava entre as grandes da década.







E por último, e não menos importante, a banda que sintetizou o que simbolizava o rock brasileiro dos anos 80 e a que teve a trajetória mais bem sucedida de todas: a Legião Urbana. Tudo isso por suas composições primorosas, sonoridade que cativava quem as ouvia, e o talento inigualável de Renato Russo. Um poeta legítimo e contestador por natureza, que arregimentava uma infinidade de fãs, Brasil afora. Após sua morte em agosto de 1996, a nossa música ficou mais pobre e a perda foi irreparável. Após sua partida, nosso rock nunca mais foi o mesmo.

  O rock brasileiro dos anos 80 até hoje não tem comparações, nem antes, nem depois com outros momentos e outras safras de bandas. A quantidade de grupos  talentosos era enorme, que ainda gerou uma leva de bandas menores, mas com potencial suficiente para fazer parte do movimento.


  E, apesar de concordar com Villa-Lobos e seu desencanto com o cenário roqueiro tupiniquim, se nosso cenário fosse restrito apenas ao que aconteceu na década de 80, ainda sim teria valido a pena. E muito!




Acompanh também:

Brasília, 18 de junho de 1988

A Canção que é um Despertar







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