sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A MTV Vai Deixar Saudades...




Culpa de uma visão equivocada da direção da casa ou apenas vítima dos novos tempos que pulverizaram os videoclips e banalizaram a música como um todo. Qual seja a razão para o fim da MTV, ainda assim ela será sempre lembrada como um divisor de águas na televisão brasileira.

O Grupo Abril, detentor da marca desde 1990, repassará à Viacom os direitos de exploração, fazendo com que o canal musical vá para a TV por assinatura, concorrendo com VH1, Multishow e similares. A tendência é ser engolida pelo sistema.

Desde os primórdios a MTV se mostrou de vanguarda. Ousava com seu estilo despojado e com programação diferenciada. Os nomes que se mostravam talentosos conseguiram dar uma identidade própria à emissora do Sumaré ¬ bairro da zona oeste paulistana, onde ficava a sede. Pena que dos muitos nomes que por lá passaram, nem todos vingaram fora do formato livre da Music Television. Muitos chegaram a cair no ostracismo. Outros tiveram que voltar ao canal para se reencontrarem como profissionais.




Os primeiros dias de transmissões foram alucinantes, recheados de boa música (o momento era propício) e cheios de energia. Mesmo involuntariamente, acabei tomando parte da inauguração, ao ser entrevistado por uma repórter do canal que queria abordar sobre o “futuro” e a ficção científica. Esse era o jeitão da trupe que trabalhava lá: não estavam seguindo padrões pré-determinados. Tinham seu próprio ritmo e isso era admirável.

Por lá eram exibidos filmes, desenhos que se tornaram cult (Beavis and Butthead, Garoto Enxaqueca e South Park). Entrevistas em formatos diferentes, shows dos mais variados e a inclusão de humor na programação, sem nunca descuidar da informação sobre música e afins.

Com o tempo foi sedimento os gêneros musicais (Heavy, Rap, Eletrônica). Criou espaço para os clássicos e inovou em games e shows que seguiam a linha da matriz, nos EUA, mas com um toque bem brasileiro que o canal imprimiu ao longo dos anos.

Cazé, Marina Person, Zeca Camargo, Gastão, Cris Couto, Fábio Massari, Soninha e Astrid Fontenelle surgiam como expoentes na emissora.


MAS...

Com o tempo o canal foi se adaptando. Já não era mais a Televisão Musical de outrora. Nomes que haviam se destacado começaram a sair e se arriscar em canais de TVs maiores.

A direção da casa começava a se moldar aos ditames da indústria fonográfica e os estilos musicais já não eram de bom gosto. Novos tempos...

Tinha no seu Video Music Brasil a cereja do bolo (financeiramente falando) e o seu inovador formato Acústico que se tornou sua marca registrada. Até desgastá-lo por completo, devido à repetição e a escolha de nomes sem afinidade com o estilo unplugged.

A MTV começou a patinar com a chegada do novo milênio. Não soube se adaptar e tropeçava nas coisas que ajudou a criar. Os nomes que chegavam ao canal musical nem de longe lembravam os pioneiros que ajudaram a sedimentar a emissora.  Limitados e sem carisma. Pessoas como Luana Piovani, Marcos Mion, Fernanda Lima e Daniela Cicarelli eram rostinhos que ficavam bem no vídeo, mas empolgavam pouco. Tiveram seus momentos. E foi só.

A direção artística da casa também não colaborava, assim como os mandachuvas da Abril, que já queriam se livrar do imbróglio que era a marca MTV. O grupo passava por dificuldades financeiras e queria se ver livre de tudo aquilo que não era economicamente viável. Era o começo do fim.



A emissora chegou ao fim oficialmente no dia 26 de setembro, mas há muito tempo estava na UTI.

As 23 e 57 minutos, rolou o último video da casa: The Soup Dragons (I'm Free). Escolha pessoal de Astrid que comandou o final da apresentação e uma das pessoas mais significativas da emissora do bairro do Sumaré, em SP. O som relembrou os momentos legais da MTV, quando a prioridade era a boa música.

Fica a história de uma emissora pequena (em SP era exibida em UHF, o que significava, naquela época, uma audiência ínfima) que chacoalhou a TV brasileira nos anos 90 e que encerrou suas atividades de maneira melancólica.


Ao menos valeu a viagem.



     (VJs das antigas que compareceram à festa. Em tempo: os "globais" Zeca Camargo, Tatá Werneck, Marcelo Adnet e Márcio Garcia não compareceram, é óbvio...)




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