Continuação da lista de filmes que marcaram a efervescente década de 80:
OS GAROTOS PERDIDOS – Pra falar de vampiros com linguagem
adolescente, esse é o filme. O elenco promissor (Kiefer Sutherland,
Jason Patrick, Corey Haim e cia) era o retrato da estética da
década. Praticamente um filme dentro de um vídeo. A trilha é um
caso a parte – tema de ECHO AND THE BUNNYMEN, numa regravação da
canção de THE DOORS (People are Strange) é o destaque. Esqueça
ECLIPSE com seus vampiros afetados; essa versão é bem melhor.
O EXTERMiNADOR DO FUTURO – Arnold Schwarzenegger em sua melhor
interpretação (curiosamente, onde ele praticamente não fala) em
uma ficção científica que marcou época, com direção e roteiro
brilhantes de James Cameron. Gerou continuações inferiores e uma
série de TV fraca.
UM TIRA DA PESADA – Numa época em que o ator Eddie Murphy podia
escolher os papéis e tinha talento de sobra pra mostrar. Ele já
havia nos brindado com um ótima performance em 48 HORAS; mas aqui é
quando o vemos em sua melhor forma. A trilha é excelente, a direção
ágil e o elenco dá conta do recado. Mas as seguidas continuações
desgastaram a fórmula.
HIGHLANDER, O GUERREIRO IMORTAL – Quase um videoclipe, regado a
muita música boa (trilha sonora do grupo QUEEN) o filme tem ritmo
rápido, com muitos cortes (típico de Hollywood) e consegue fazer do
canastrão Christopher Lambert destaque nessa produção. Pena que as
continuações e o seriado acabaram com o encanto da produção
original.
BLADE RUNNER, O CAÇADOR DE ANDRÓIDES – Um filme subestimado
pela crítica à época.
Mas com o tempo os que torceram o nariz para a produção de
Ridley Scott acabaram se convencendo, ainda que tardiamente, que era
uma ficção científica de ótima qualidade. Tudo funciona
perfeitamente. Do elenco ao roteiro, passando pela memorável trilha
sonora de Vangelis. Um marco no cinema dos anos 80.
EM ALGUM LUGAR DO PASSADO – Christopher Reeve, o eterno
SUPERMAN, resolveu mudar a imagem e investiu nesse filme que é um
misto de romance com ficção. A produção é feita sob medida pra
arrancar lágrimas da plateia. E com a trilha sonora rica em música
clássica (com destaque para a RHAPSODIA de Paganini), fica difícil
não conseguir o intento.
CONTA COMIGO – Poucas produções de Stephen King foram bem
adaptadas para a telona. Muitas se perderam no caminho e
comprometeram o trabalho do próprio autor. Mas alguns filmes
souberam captar a atmosfera da literatura de King. STAND BY ME é uma
delas. Fica difícil não se envolver em películas cujo elenco tem
crianças ou adolescentes como protagonistas. Aqui, a gang (que
inclui o então promissor RIVER PHOENIX) é composta por jovens de
talento. A narração é feita por Richard Dreyfuss.
FLASHDANCE – Pode-se dizer que a história é fraca, que a
atuação do par central deixa a desejar, mas o filme conseguiu fazer
muito sucesso no cinema. A trilha sonora, as cenas de dança, o ritmo
de videoclipe fizeram dessa produção um momento marcante no cinema.
Venceu o Oscar de melhor canção (WHAT A FEELING...) e ainda foi
indicado nas categorias de melhor fotografia, melhor edição, melhor
canção original (Maniac) e melhor trilha sonora.
A LAGOA AZUL – Dizer que foi reprisado a exaustão na “Sessão
da Tarde” é dizer pouco. Talvez por isso haja tanta rejeição com
a produção que alçou Brooke Shields à condição de estrela. Ela
está maravilhosa, exuberante até. E romances tendem a ser
bem-aceitos pelo público. O par central até funciona. A química é
o que mantém a liga no filme. Isso e os meios que eles usam para
sobreviver em uma ilha deserta. Gerou uma continuação sem propósito
algum.
ELVIRA, ARAINHA DAS TREVAS – A eterna Elvira, com seu visual
dark e sensual sempre foi o que mais chamou a atenção no personagem
criada pela atriz Cassandra Peterson. Ela, que ficou conhecida do
público masculino ao posar nua para a Playboy. Acabou cacifando em
cima de sua cria. Até hoje Elvira é referência no gênero de
terror/trash movie. Um gostoso passatempo.
Acompanhe também:
* FILMES QUE MARCARAM OS ANOS 80 - PARTE 1
Nos anos 60 uma série de TV ganhava status de 'cult'. Foi
apresentada em preto-e-branco de 1963 a 1966, e em cores de 1966 a
1967. A série teve quatro temporadas e contou com 120 episódios no
total, e foi apresentada pelo canal ABC. Estrelada por David Jensen
(Dr. Richard Kimble) e Barry Morse (tenente Philip Gerard) o show
fora criado por Roy Huggins. Ele, um produtor que passou pela Fox e
foi queridinho na Warner.
Huggins baseou seu “Fugitivo” em um caso ocorrido no Meio
Oeste americano nos anos 50, de um homem inocente que, em fuga
constante, buscava sua redenção. O seriado caiu como uma luva e no
gosto do público americano. A audiência sempre esteve nos padrões
bem acima da média.
Kimble, um homem em fuga para provar sua inocência, sempre se
envolvia com outras pessoas e acabava ajudando-as. Um personagem
altruísta, que apesar do momento delicado que vivia, conseguia
colocar seus problemas de lado para socorrer o próximo.
O público adorou o anti-herói.
No início da década de 90, voltou-se a falar de uma versão
cinematográfica (sempre se cogitou isso, na década de 70) e a
Warner Bros achou que era o momento oportuno.
Na versão para as telonas, Kimble era protagonizado por Harrison
Ford e Gerard, por Tommy Lee Jones.
No verão de 1993, os americanos assistiram a uma versão vigorosa
de O FUGITIVO. Tudo funciona na produção: da interpretação de
Ford, à trilha sonora de James Newton Howard; da direção de Andrew
Davis (de UM CRIME PERFEITO) à edição que tornava o ritmo do filme
frenético.
Levou o Oscar de ator coadjuvante para Jones, como o obsessivo
Philip Gerard. Premiação mais do que justa. Foi indicado, ainda, em
outras seis categorias: melhor filme, fotografia, efeitos sonoros,
edição, trilha sonora e melhor som.
O sucesso mundial da película motivou uma regravação do
seriado.
Em 1999 os estúdios Warner, com a benção de Huggins (criador e
produtor-executivo, dessa vez), deram sinal verde para gravar a
série.
Para viver Richard Kimble, escolheram Tim Daly (A TEMPESTADE DO
SÉCULO e PRIVATE PRACTICE); e o novo Philip Gerard seria
interpretado por Mykelti Williamson.
Os números iniciais animaram a emissora e foi encomendada a
temporada inteira (nos anos 90 e até meados do início do milênio,
os seriados eram uma aposta em duas fases: primeiro se iria ter mais
de 13 episódios, e depois se haveria uma segunda temporada), que
acabou decepcionando os executivos.
Talvez pela escolha do elenco, do roteiro que demora a contrapor a
vítima (Kimble) e o assassino de sua mulher, o famigerado Homem de
um só Braço (Stephen Lang), fato é que a série parece patinar em
alguns momentos.
Ainda é melhor do que muitos seriados que estão em exibição
nos EUA, recentemente, ainda assim, abaixo do seu original. E a
comparação é inevitável.
Daly faz um esforçado Dr. Kimble, mas Williamson parece
caricatural demais. Principalmente se compará-lo com os atores que o
antecederam. Tommy Lee Jones era obsessivo, mas era convincente.
Williamson é repetitivo e sem muitos recursos dramáticos.
O cancelamento foi inevitável, mesmo após os produtores terem
apressado para agitar as coisas nos três últimos episódios. Aí já
era tarde demais.
Das três versões, a cinematográfica é a mais espetacular.
Ainda assim, é uma versão romanceada dos fatos.
Do site Farrapo Velho:
A série foi inspirada no caso real do Dr. Shepard, com a
diferença de este não ter fugido para encontrar o verdadeiro
assassino da sua mulher. E de esse assassino não ser maneta, mas
apenas ter uma cabeleira amarfanhada.
O caso real passou-se nos anos 50. Depois de ter encontrado o tal
cabeludo em casa e de ter lutado com ele, encontrou a esposa
assassinada, tendo todos os indícios apontado para o marido, que
sempre clamou inocência.
Pelos indícios serem tão fortes, a população (e principalmente
a imprensa) esperavam um julgamento e uma condenação rápida. E
fizeram força para isso. Ao fim de um ano (o que para os cânones do
panorama judicial português não é rápido, é um piscar de olhos),
o homem foi condenado à prisão perpétua, escapando por pouco ao
veredicto de “homicídio em 1º grau”, o que o levaria à cadeira
eléctrica.
O seu advogado tentou inúmeros recursos, que nunca foram aceitos.
Confira AQUI.
Mais um caso em que a ficção é melhor do que a realidade.
Clássicos, cult, referências...Muitos dos filmes realizados na
década de 80 são destaque até hoje. Influenciaram uma geração,
deram uma cara diferente ao cinema mundial e até hoje permanecem
na memória de milhões de espectadores mundo afora.
Algumas dessas produções acabaram ganhando refilmagens e/ou
continuações que, invariavelmente, acabaram com o encanto do
original.
Eis algumas preciosidades que deixaram saudades:
ROBOCOP – A empreitada do diretor holandês Paul Verhoeven no
campo da ação deu a ele o status de cult. Gerou duas continuações
fracas (uma delas roteirizada por Frank Miller, o gênio dos
quadrinhos) e uma refilmagem dirigida por José Padilha. Na dúvida,
fique com o original.
A HORA DO ESPANTO – Na década de 80, a “espantomania”
tomava conta dos cinemas. E essa versão moderna de Drácula ajudou e
muito o gênero do terror a mandar bem nas bilheterias. Muito pelo
elenco, mas também pela forma como é apresentada ao público. Gerou
uma sequência fraca e uma refilmagem de gosto duvidoso.
TOP GUN – Tom Cruise estava apenas iniciando sua curva
ascendente em Hollywood, quando essa produção foi lançada. Fez um
sucesso fenomenal, apesar de um roteiro fraco. Mas o elenco
carismático e as cenas de ação (assim como o romance entre o par
central) ajudaram a fomentar a produção.
O CLUBE DOS CINCO – Dirigido pelo 'Midas' dos filmes
adolescentes, John Hughes, que acabou ficando milionário com a
cinessérie ESQUECERAM DE MIM, o drama que mostra o convívio forçado
entre 5 jovens, de castigo, em pleno sábado na escola e que notam
ter mais em comum do que gostariam de admitir, se tornou cult'. E com
razão. A música tema do SIMPLE MINDS (DON'T YOU FORGET ABOUT ME)
virou, praticamente um hino da juventude da época.
DIRTY DANCING – As histórias de adolescente de Eleanor
Bergstein, acabaram virando um musical de sucesso e um dos mais
rentáveis da história. O par central (Patrick Swayse e Jennifer
Grey) que se detestava na vida real acabou criando uma química nas
telas que cativou o público. A produção demorou anos para chegar
às telas, mas quando veio, marcou seu nome da história, apesar de
uma história até certo ponto previsível.
COBRA – Se por um lado havia a 'espantomania', também havia os
famigerados filmes de ação. E Sylvester Stallone era um dos ícones
daquela época. Cobra, por mais maniqueísta que seja, foi um dos
mais bem-sucedidos do ator(?) nos anos de 1980. Movimentado, com
trilha sonora contagiante (marca registrada de Stallone, que
acompanha de perto a escolha das músicas) e muito tiroteio fizeram a
alegria dos espectadores.
GHOSTBUSTERS – Com um trio de atores talentosos (Bill Murray,
Dan Aycroyd e Harold Ramis), uma direção segura e um roteiro que
servia exatamente ao talento do elenco, o sucesso era garantido.
Soma-se a isso, uma música tema contagiante (ou pegajosa) que foi
bem-sucedida nas paradas de sucesso. A continuação foi bem abaixo
do original. Mas o capítulo final da trilogia ainda é aguardado.
FOOTLOOSE – Kevin Bacon pode dizer que atuar nesse filme foi uma
benção e uma maldição. Alçou seu nome ao estrelato (e pra quem
começou a carreira em filmes de terror, foi um verdadeiro achado) e
pode fazer outras coisas: comédias, romances e até vilões. Mas
dificilmente conseguiu ser lembrado por outras produções marcantes
como esta. A trilha é bem descolada, o elenco talentoso e a direção
segura a onda, mas o roteiro é previsível. Ainda assim, uma ótima
opção. Esqueça a refilmagem. Um horror.
SEXTA FEIRA 13 – Abrindo a década com um trash movie que seria
elevado a condição se cult. Foi a estreia de Kevin Bacon no cinema.
Os amantes de Jason sabem que aqui apenas sua mãe é a assassina,
mas que o longa prepara terreno para as continuações inevitáveis,
onde aí sim seu "estilo” seria conhecido. Marcou o cinema de
horror, gerou uma infindável lista de imitações e assustou um
bocado de gente.
A HISTÓRIA SEM FIM – A produção infanto juvenil é uma
preciosidade. Narra a história de Bastian (Barret Oliver) que é um
garoto que usa sua imaginação como refúgio dos problemas do dia a
dia. Filme alemão com narrativa fantástica que acabou marcando a
década de 80.
Quase sempre a obra original (o livro) é melhor que suas
eventuais para as telas. Por ser o ponto criativo ou por conter mais
espaço para detalhar a trama e desenvolver personagens, o fato é
que na literatura, a história parece ser mais completa. Mas há
exceções.
Eis alguns exemplos de que um livro é apenas um livro perto de
uma obra de arte que é um filme:
O Iluminado – A obra de Stephen King é mediana se comparada com
a assustadora versão do inigualável Stanley Kubrick. King odiou a
adaptação. Pudera. Ela se imortalizou, e seu livro ficou em segundo
plano.
Da abertura ao final angustiante, Kubrick mostra que a obra original, apesar de ótima, foi mal aproveitada pelo autor. O diretor deu sua visão peculiar do enredo. Resultado: um dos melhores filmes de terror de todos os tempos.
Os Pássaros – Daphne du Marier fez uma obra admirável. Mas
anos depois, o incomparável Alfred Hitchcock tornou a obra um
clássico do suspense moderno, copiado à exaustão. O livro é de
1952; a produção de Alfred chegou aos cinemas em 1963. Nem é
preciso dizer qual trabalho se imortalizou.
Ben Hur – Escrito em 1880 por Lew Wallace, então um ateu
convicto, o livro era a tentativa de desacreditar os evangelhos, por
parte do autor. Acabou se convencendo da existência de Jesus e daria
a oportunidade de ser realizado em 1960, uma obra-prima do cinema,
dirigido por William Wyler, que acabou ganhando 11 Oscars, um recorde
absoluto.
Dr. Jivago – Clássico da literatura moderna, o romance tem o
nome de seu protagonista, Yuri Jivago, um médico e poeta. Conta a
história de um homem dividido entre duas mulheres sob fundo da
Revolução Russa de 1917. Mas a versão cinematográfica realizada
por David Lean superou o original. Marcou época e ganhou cinco
prêmios, nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção
de Arte – A Cores, Melhor Fotografia – A Cores, Melhor Figurino –
A Cores e Melhor Trilha Sonora. Ainda foi indicado nas categorias de
Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Tom
Courtenay), Melhor Edição e Melhor Som.
Rebecca, a Mulher Inesquecível – Nova parceria de Hitchcock e
du Marier. O livro resvala mais para o sentimentalismo; o filme vai
direto ao cerne da questão: a nova ocupante da casa sendo assombrada
por uma falecida mulher que, mesmo não estando mais lá, parece mais
presente do que antes. O clima claustrofóbico dá o tom da produção
do mestre do suspense.
Fahrenheit 451 – Ray Bradbury, o criador da obra original, fez
um libelo contra o totalitarismo e a decadente sociedade americana. O
romance apresenta um futuro onde todos os livros são proibidos,
opiniões próprias são consideradas antissociais e hedonistas, e o
pensamento crítico é suprimido. Já a versão para o cinema de
François Truffaut é mais contundente e realizada de maneira cínica.
A maneira crua com a qual o diretor aborda o tema é apenas mais um
diferencial da película.
As Vinhas da Ira – John Steinbeck recebeu em 1962 o Nobel de
literatura por esta obra magnífica, escrita em 1938, no auge da
Depressão Americana. Já o mago John Ford levou sete semanas para
realizar a adaptação, em 1940 e conseguiu a façanha de elevar o
filme ao patamar de clássico, um dos melhores de todos os tempos.
Além de ser premiado pela Academia de Artes Cênicas em 1941. Venceu
nas categorias de melhor diretor (John Ford) e melhor atriz
coadjuvante (Jane Darlene).
Indicado nas categorias de melhor ator (Henry Fonda), melhor
montagem, melhor filme, melhor som e melhor roteiro.
As Pontes de Madison – de Robert James Waller. Conta a história
de uma mulher casada (Francesca) que se envolve com um fotógrafo da
revista National Geographic que vai a Madison, em Iowa, captar
imagens das famosas pontes.
A história é contada em flashbacks. Após a morte de Francesca
(Meryl Streep), seus filhos descobrem um manuscrito que revela essa
passagem de sua vida. O filme passa-se em 1965.
A produção do longa foi conturbada, mas foi salva pela direção
e também atuação de Clint Eastwood. A química entre ele e Streep
é o diferencial do filme, além da forma correta como é conduzida a
produção baseada em fatos ocorridos nos anos 60.
O Dia do Chacal – Frederick Forsyth estava inspirado ao escrever esse
romance que é baseado em uma tentativa de fato de assassinar o
presidente francês Charles de Gaulle, que aconteceu em 1963, por
obra de Jean Bastien-Thiry. O carro onde estava De Gaulle chegou a
ser metralhado. Thiry era um funcionário público francês
insatisfeito em perder seu cargo na Argélia, em virtude da
independência do país promovida por De Gaulle. Mas a adaptação
cinematográfica senão é melhor, ao menos está em pé de igualdade
com o original. Bem dirigida e roteirizada a película marcou a
carreira vitoriosa do diretor Fred Zinneman, diretor de MATAR OU
MORRER e A UM PASSO DA ETERNIDADE.
A Última Tentação de Cristo – o escritor grego Níkos
Kazantzákis, autor de Zorba, o Grego foi escrachado em praça
pública quando lançou A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO. Martin
Scorsese tomou todo o cuidado do mundo para manter as palavras
iniciais do livro ('é apenas uma obra de ficção’') no início do
seu longa. Mas as polêmicas foram ainda maiores contra ele, do que o
autor do livro. Ainda assim, a produção é melhor do que a obra
literária. Desde a trilha de Peter Gabriel, passando pelas atuações
inspiradíssimas de William Defoe e Harvey Keitel e com a costumeira
direção segura de Scorsese, fica claro que, apesar de longo, está
em um patamar superior ao seu original.
Vidas Secas – A obra é inspirada em muitas histórias que
Graciliano Ramos acompanhou na infância sobre a vida de retirantes,
na história, o pai de família Fabiano acompanhado pela cachorra
Baleia, estes são considerados os personagens mais famosos da
literatura brasileira. Data de 1938. A adaptação feita por Nélson
Pereira dos Santos, que foi aplaudida de pé em Cannes é de 1963.
A utilização de tomadas de câmeras sem filtro (para captar a
crueza do sertão, com todas as suas nuances) é um dos diferenciais
do longa. As cenas têm um grau tão alto de realidade que durante o
evento francês, os produtores foram questionados se a cachorrinha
Baleia estava viva. Nélson, um dos grandes nomes do cinema nacional
e expoente do Cinema Novo realizou uma obra vigorosa e sem igual. E
conseguir superar um trabalho de Graciliano, não é tarefa para
qualquer mero mortal.
2001, uma odisseia no espaço – 2001 é o primeiro livro da
tetralogia de ficção científica Odisseia no Espaço, escrita por
Arthur C. Clarke em 1968. O livro foi desenvolvido conjuntamente com
sua versão cinematográfica, dirigida por Stanley Kubrick e
publicado após o filme. A estória é baseada em vários outros
contos de Clarke, sendo notável a influência de “The Sentinel”.
Ler a obra de Clarke e assistir a obra fundamental da ficção
científica do cinema mundial são dois privilégios. Nesse quesito,
Kubrick leva certa vantagem, pois a concepção visual é de deixar
boquiaberto os espectadores.
Na mesmice que vive o cinema americano nos últimos anos é de se
lamentar que muitos filmes passaram em branco nas bilheterias ou pouco
chamaram a atenção do público, mesmo que tenham sido aclamados
pela crítica.
Os “blockbusters”, aqueles arrasa-quarteirões com os quais
nos acostumamos (ou fomos doutrinados a idolatrá-los) são os mais
lembrados, mas de maneira injusta.
Muitas produções mereciam melhor sorte.
Eis algumas:
Doces ecos do passado – O aclamado filme canadense de 1988, que
foi aplaudido de pé no festival de Cannes. Remexendo num antigo baú,
garoto descobre a história de sua avó, uma pianista famosa no
início do século por musicar ao vivo filmes mudos. Uma nova
realidade surge para os descendentes dessa mulher pioneira. Lembra o
cultuado filme Cinema Paradiso, mas melhor que a produção italiana.
Noite de Desamor - Jessie Cates (Sissy Spacek) é uma mulher de
meia idade com epilepsia e, por causa desse problema, não consegue
arranjar emprego. Além disso, seu filho é viciado em drogas pesadas
e seu casamento é um fracasso. Todos esses problemas fazem com que
Jessie resolva cometer suicídio. O problema é que ela quer fazer
isso na casa da mãe, Jessie Cate (Anne Bancroft), colocando-a em um
dilema. Baseado em peça de Marsha Norman, o filme mostra um dos
piores pesadelos que uma mãe pode enfrentar, já que o desafio de
Thelma é convencer a própria filha de que vale a pensa viver, e
para isso ela tem apenas uma noite.
Produção quase teatral, realizada em um único cenário, o longa
de Tom Moore mostra um duelo de grandes atrizes, um roteiro forte e
uma direção segura. Vale muito a pena acompanhar.
O Palco de Desilusões - Sally Field está no papel de uma
dona-de-casa que resolve virar comediante profissional, se
apresentando em bares e casas de shows. Ela conhece um comediante
(Tom Hanks) com um pouco mais de experiência que vai lhe dando
várias dicas. Eles se unem, se ajudam apontando as falhas um do
outro, buscam novas chances e descobrem que fazer rir não é nada
fácil, nem tão divertido.
É sabido que Tom Hanks sempre soube administrar bem a carreira;
soube escolher os papéis que melhor lhe serviria a consolidar uma
carreira em Hollywwod e, apesar deste filme ter passado em branco nas
bilheterias, no final dos anos 80, merece ser visto (ou revisto) para
se confirmar o talento ascendente e a participação excelente de
Field.
Nosso Querido Bob - Leo Marvin (Richard Dreyfuss) é um
psiquiatra que atravessa o momento mais importante da carreira. Leo
acabou de lançar o livro " Passos de Bebê" e está
prestes a ser entrevistado pela televisão, mas sua vida é
tumultuada quando lhe é passado um paciente (Bill Murray)
extremamente inseguro, que quando descobre que seu terapeuta vai sair
de férias fica desesperado e usa diversos ardis para descobrir onde
seu médico está passando férias com a família. Quando ele chega
ao local o psiquiatra fica irritado, mas toda a família dele se
simpatiza rapidamente com este paciente neurótico, mas extremamente
amável, que sempre diz que está indo embora mas retorna pelos
motivos mais diversos, deixando o terapeuta descontrolado.
A dupla Dreyfuss/Murray está perfeita e mostra uma sintonia
fantástica. Murray saindo do estereótipo do sarcástico em tempo
integral, que o acompanha desde os tempos do Saturday Night Live.
Imperdível
O Demônio - Cinco pessoas que nunca se viram ficam presas num
elevador de um arranha céu comercial. Enquanto rumavam para seus
respectivos andares, algo acontece e ele para no meio do caminho. E o
que para muitos já seria motivo de tensão, piora ainda mais porque
estranhos e violentos acontecimentos começam a surgir dentro do
pequeno espaço. Alguém ali dentro não é quem aparenta ser. O medo
e a maldade tomam conta do local e do lado de fora, ninguém
conseguie arranjar um jeito de ajudá-los.
Mais um roteiro de M. Night Shaymalan, o realizador de O Sexto
Sentido e A Vila, mas que depois destes filmes sua carreira entrou em
uma curva descendente. O roteiro é bem armado deixando o espectador
em constante suspense para entender o que está acontecendo e,
principalmente, quem é responsável pelos acontecimentos. Filmado
quase que tempo integral dentro de um elevador, nem por isso deixa de
ser eletrizante. Pena que naufragou nas bilheterias.
O Suspeito da Rua Arlington - Professor de história (Jeff
Bridges) faz amizade com seus novos vizinhos (Tim Robbins e Joan
Cusack), logo após ter salvo o filho deles. Desconfiado de que há
algo, começa a achar que seus vizinhos têm um plano para explodir
um prédio público e que podem ser, na verdade, terroristas.
A eterna paranoia americana com estrangeiros e sua conseguinte
xenofobia é criticada nesse filme que não fez sucesso nas
bilheterias no meio dos anos 90. O roteiro mostra que o perigo pode
estar ao lado e ser do nosso convívio pessoal. Numa clara referência
ao atentado de Oklahoma em 1995 pelo americano Timothy McVeigh,
ligado a grupos ultra-radicais de extrema direita dos EUA.
As interpretações dos atores centrais são notáveis. Se
houvesse visibilidade suficiente, a produção poderia ter abocanhado
algumas indicações ao Oscar.
A Última Profecia - John Klein (Richard Gere) é um respeitado
jornalista que trabalha no Washington Post. Ele e sua esposa, Mary
(Debra Messing), procuram uma nova moradia e acabam encontrando a
casa de seus sonhos. Porém, pouco depois de decidirem pela compra
são vítimas de um acidente de carro e o estado de Mary é grave. No
hospital, ao fazer exames, se descobre que ela é portadora de um
tipo de tumor no lóbulo temporal muito raro. Ela passa a ter visões
e logo depois morre. Dois anos depois, ao dirigir para Richmond para
um encontro profissional, se desvia inexplicavelmente 650 quilômetros
da sua rota, indo para Point Pleasant, uma pequena localidade em West
Virginia. Ele parou ali pois seu carro aparentemente apresentava
problemas, mas ao pedir para telefonar é ameaçado por Gordon
Smallwood (Will Patton), que lhe aponta uma arma dizendo que é o
estranho que, pela terceira vez, aparecia na sua casa às duas e meia
da madrugada. Ele tenta entender como percorreu uma distância tão
grande em menos de duas horas. No outro dia, ao tentar resolver o
problema do seu carro, descobre que o veículo não tinha nenhum
defeito. Ao saber que estranhos fenômenos ocorreram, ele fica no
local a fim de investigar e fica sabendo que tais fatos estão
relacionados às imagens desenhadas por Mary pouco antes de sua
morte.
Baseado em fatos ocorridos na Europa, no começo dos anos 80.
Ricochet, Sem Limites Para Vingar - O policial Nick Styles (Denzel
Washington) é visto como um herói após ter prendido o perigoso
psicopata Earl T. Blake (John Lithgow). O bandido nutre, desde então,
uma profunda raiva contra Nick. Sete anos depois, quando escapa da
prisão, Blake começa por em prática seu plano de vingança, onde
destrói a carreira do policial junto a corporação, ao público e à
sua família.
Filme de quando Denzel ainda buscava se afirmar em Hollywood em
papéis centrais. Ele havia acabado de receber um Oscar por Tempo de
Glória, mas como coadjuvante. Tanto ele quanto Lithgow dão um show
à parte.
A Morte Pede Carona – Revelado pelos primeiros longas do
compatriota Paul Verhoeven, o ator holandês Rutger Hauer já havia
feito nos EUA "Blade Runner" (1982) e "O Feitiço de
Áquila" (1985) quando John Ryder, o misterioso assassino serial
de "A Morte Pede Carona" (1985), o popularizou como ícone
de beleza e perturbação.
No filme, um jovem (C. Thomas Howell) planeja levar um carro de
Chicago até San Diego. Seu pesadelo tem início quando oferece
carona a um estranho (Hauer), que o envolve em vários crimes e o
obriga a fugir da polícia. Uma garçonete (Jennifer Jason Leigh) o
ajuda.
O filme só foi descoberto em sua plenitude quando houve uma
versão realizada em 2007. A comparação é inevitável, já que a
produção de 1985 é sóbria e não uma versão adolescente sem
graça como foi a refilmagem. Rutger Hauer em uma atuação de gala
merecia ser lembrado pela Academia de Hollywood. O roteiro parece
perguntar 'como as pessoas permitem que entrem ameaças em suas
vidas'?
Fuga à Meia Noite - O esperto estelionatário Jonathan Mardukas
(Charles Grodin) é capturado pro Jack Walsh (Robert De Niro), um
caçador de recompensas que deve levá-lo de Nova York até Los
Angeles. Mas o caçador ainda não sabe que seu prisioneiro deve uma
fortuna à máfia e está sendo perseguido por assassinos.
De Niro, como sempre, está ótimo; mas o que Charles Grodin
consegue é digno de louvor: ele não '‘desaparece’' ao
contracenar com Robert, o que é muita coisa, em se tratando de uma
lenda viva, que ainda estava no auge.
O filme transita da comédia à aventura e com muitas cenas de
ação sem perder o ritmo ou o objetivo. Ponto para o diretor Martin
Brest, de Um Tira da Pesada.