sexta-feira, 24 de julho de 2015

Minha homenagem a Joni Mitchell. Enquanto ela ainda vive...



por Régis Tadeu

link original AQUI.



David Crosby dizia que ela era tão humilde quanto o ditador italiano Benito Mussolini. Bob Dylan disse certa vez que ela é dos “homens mais durões” que ele já viu. Não duvide destes dois: Joni Mitchell é uma mulher muito diferenciada desde a época em que era uma bela e carismática hippie dos anos 70 e que se tornou famosíssima como uma das maiores cantoras de todos os tempos, levando a beleza de suas canções muito além dos muros tradicionalistas da folk music americana.

Sua origem canadense nunca foi um empecilho para que ela exercitasse a energia vulcânica que circulava em suas veias e artérias. Obstinada, ela jamais se rendeu ao machismo reinante no show business. Para ela, deveria haver uma igualdade e jamais uma dominância. Dona de seu destino artístico, jamais abaixou a cabeça para ninguém. Suas canções nunca se furtaram em combater as ideias pré-concebidas de como uma artista como ela deveria se portar ou como deveria ser seu direcionamento artístico.

Teve que brigar muito com os produtores de seus álbuns para conseguir gravar o que queria. Teve que brigar com os executivos de suas gravadoras para lançar os álbuns do jeito que sempre quis. Teve que lutar muito contra a tirania reinante no show business para soltar canções e álbuns correndo riscos e se reinventando constantemente. Suas opiniões sempre representaram uma fortaleza de pedra muito alta para qualquer zé mané sequer tentar escalá-la. Teve peito de brecar uma cinebiografia a respeito de sua vida que seria estrelada pela Taylor Swift, foi a única artista a dizer que Bob Dylan sempre foi um babaca enganador e deixou muito claro à direção do Hammer Museum de Los Angeles que sabia que a homenagem que pretendiam fazer a ela – incluindo a exposição de seus inúmeros quadros – serviria apenas para trazer grana de ricaços para a instituição. Sua moral em termos de acidez de ideias e a postura típica de “fodam-se todos vocês” a levou a ser contratada a peso de ouro pela Saint Laurent para ser uma das figures icônicas de uma campanha recente da marca, ao lado de Marianne Faithfull, Kim Gordon e Marilyn Manson.

Sempre negando o caráter confessional de suas canções, Mitchell nunca admitiu que os personagens de suas canções eram pessoas com as quais encontrava em seu cotidiano. Teve a mesma postura em relação a momentos soturnos de sua vida, como quando ficou grávida de um colega de faculdade e resolveu ter a criança às escondidas, sem que os pais soubessem, dando o bebê para adoção dias depois do parto. A história veio à tona contra a vontade de Mitchell nos anos 90 e ela chegou a reencontrar a filha em 1997.

Não tenho a menor dúvida de que sua soberba discografia e sua postura altiva e ao mesmo tempo serena serão legados inquestionáveis quando nos lembrarmos dela. Joni Mitchell é daquelas artistas das quais você tem que ter todos os discos, sem exceções. Se não quiser ou não tiver “açucar no armário”, pode experimentar o ótimo box Love Has Many Faces: a Quartet, a Ballet, Waiting to be Danced, que reúne em quatro CDs mais de cinquenta de suas melhores canções, todas remasterizadas.

Ela nunca foi uma “vendedora de milhões de discos”, como esse monte de gente sem talento que vem frequentando as “paradas de sucessos” da Billboard ou do reino de Satã. Cada um de seus álbuns é o reflexo artístico de uma cantora/compositora sensível, que exala em suas letras de enorme cunho poético tanto a suavidade da alma como a raiva contra um mundo real cada vez mais embrutecido. Ela tem a fama perfeita: respeitosa, icônica e madura. Sua música nunca será engolida por tempos cada vez mais descartáveis e sim será preservada pela memória cultural deste planeta.

Ela já está doente há quase uma década, mas sua saúde degringolou muito nos últimos meses. Fontes próximas à família dizem que ela não consegue mais levantar da cama e nem falar, em um estado próximo do vegetativo. Triste, muito triste. Torço para que se recupere, mas os próprios médicos dizem que isso é impossível.


Portanto, deixo aqui a minha homenagem a ela na forma de um texto e de alguns vídeos – um deles ao lado de uma superbanda, formada pelo baixista Jaco Pastorius, pelo saxofonista Michael Brecker e pelo baterista Don Alias - que certamente vão mexer com você caso a música dela nunca tenha chegado ao seu cérebro e coração. Aposto que a sensação depois disto é a de que Mitchell parece ter decidido abandonar um mundo onde o talento não vale nada…














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