segunda-feira, 21 de abril de 2014

ROCK AND ROLL – CAPÍTULO 4 – DO PUNK AO GRUNGE




Pode-se dizer que a década de 70 foi pródiga em estilos musicais, mas nem por isso foi a melhor musicalmente falando. O Funk, o Reggae, o Pop e a malfadada Disco Music permearam os anos setenta, deixando o rock em segundo plano, muitas vezes.

As bandas que se notabilizaram durante os anos de 1960, perderam força. Menos as que surgiram na virada da década, como Black Sabbath e Led Zeppelin. 

O jeito teatral de nomes como Alice Cooper (o pioneiro), Iggy Pop, David Bowie e Kiss deram uma guinada no gênero musical.

Mas esses gigantes do rock and roll sofreram a maldição do 5º álbum. Invariavelmente, após lançar o quarto disco, o ânimo destes grupos arrefeceu. A obra-prima LED ZEPPELIN IV nunca foi superada, assim como os primeiros trabalhos do Sabbath, que inventaram o que se chama de heavy metal. Bowie e Cooper idem. Houve oscilações no rock, enquanto os estilos musicais diversos conquistavam novos adeptos.

O grande nome da segunda metade da década foi Bee Gees. A Disco era ilusória, uma distração para os jovens. Ajudava a alienar, enquanto contagiava com seu ritmo. 

Mas em uma sociedade decadente e com ausência de esperança, surgiu algo para os jovens externarem sua indignação: o PUNK.



Foi o momento em que a velha guarda morreu e nascia a nova geração.

Calcada na insatisfação juvenil e contra a opressiva sociedade londrina, o estilo proliferava. Arregimentava adolescentes em bairros pobres e canalizava suas insatisfações contra o mundo que os cercava. 

O sistema era injusto e sufocava rebeldias. O Punk dava vazão à ela. 

“Não se consegue mudança sem atacar o que o mantém oprimido”. A frase, anônima, parecia caber como uma luva naquele momento.



O rock progressivo também era motivo de crítica. As bandas punk odiavam Pink Floyd e cia.

Nos EUA, o movimento, inspirado na matriz britânica, tinha surgido com força em Nova Iorque. Mas na casa de shows CBGB, ou "Country, Bluegrass, and Blues and Other Music For Uplifting Gormandizers", houve o maior número de bandas punks reveladas na história do rock. 



Nomes como Television, Richard Hell, Johnny Thunders & The Heartbreakers, The Ramones, Blondie, Elvis Costello, The Dead Boys, The Misfits, Patti Smith passaram por lá.


Mas os primórdios do gênero vieram com MC5  e depois com New York Dolls. Eles mostraram o caminho; os demais trilharam e ampliaram.

Nesse cenário surgiu os Sex Pistols, o maior e melhor expoente do punk rock. Musicalmente não eram ideais. Mas Malcom MacLaren viu potencial suficiente para explorar e virar moda.






As letras demolidoras causaram furor nas rádios londrinas. “God Save the Queen” foi censurada no Reino Unido. Mas se aproveitando do jubileu da realeza, MacLaren teve uma sacada genial. Alugou um barco para cruzar o rio Tâmisa, enquanto o evento acontecia. Nele, os integrantes do Sex cantaram em alto e bom som, a música que a Rainha ousou proibir. A partir daquele momento os Pistols se tornaram lendas. E o comportamento desafiador do novo estilo musical fervilhava na cabeça dos jovens ao redor do mundo.

Na rabeira, The Clash mostrava que era possível conciliar letra e música com atitude. Os primeiros discos são obras-primas do rock; seus shows fervilhavam. 





A juventude londrina se via naquilo, se identificava. As letras davam vazão aos excluídos de uma sociedade moribunda, que pouco ou nada apresentava aos seus integrantes. Sem perspectivas, ao menos os jovens tinham uma identificação cultural, o que era muito naquele cenário.


O EFEITO RAMONES

Se na Inglaterra o maior nome eram os Sex Pistols, nos EUA faltava um catalisador do mesmo porte. 

Contestados no início pelo disco fraco de estreia, os Ramones demoraram a engrenar no cenário nova iorquino. 






Mas quando pegaram o jeito e o público começou a entender a banda, ninguém mais segurou os caras. Eles não eram politizados como o Clash, nem faziam o estilo jovens enfurecidos como o Sex Pistols; eles detestavam tratar de coisas sérias nas canções. Talvez estivesse muito aquém de suas capacidades. Fato é que que o visual e as músicas se tornaram inconfundíveis para os integrantes do conjunto que homenageava Paul MaCartney. O ex Beatle usava o codinome Paul Ramone para se hospedar e passar incógnito nas viagens. Dava certo. A homenagem era justíssima.

Num segundo momento o CBGB revelou mais gente boa. Circle Jerkes, X, The Sluts, Generation X, The Jam, Germs, Buzzcocks. As gravadoras independentes ansiavam por novos talentos e eles apareceram aos montes.

No Reino Unido surgira o Joy Division, que também marcou época, apesar do pouco tempo de carreira.





Mas as grandes rádios e a indústria fonográfica queriam domesticar o Punk. Torná-lo mais 'seguro', afinal contestar o sistema não era o ideal para o establishment.

Com esse conceito criou-se a NEW WAVE, uma versão mais mansa do estilo britânico. Sioxies and the Banshees, Blondie e Talking Heads (domesticados pela gravadora) pareciam se encaixar melhor nos quesitos básicos dos grandes executivos musicais.





No auge da carreira, em uma turnê americana, o Punk começou a declinar com a aposentadoria precoce dos Sex Pistols, com uma sensação de trabalho inacabado. 

A Nova Onda deixou o Punk mais bonitinho, mas apenas se afastou das origens.

O rock nasceu bastardo e livre; nasceu para mudar o estado de coisas. Sex Pistols, The Clash e Ramones mostraram o caminho, mas demorou mais de uma década para que alguém ouvisse as mensagens e reiniciasse o rock em seu berço: nas garagens.






SEATTLE, EUA

O Nirvana surgiu no fim dos anos 80. Em 1989 lançou o primeiro disco, mas foi com o segundo, NEVERMIND que o mundo da música mudaria novamente. Smells like teen spirit se tornou hino e se espalhou pelas rádios do planeta. E, ao contrário de inúmeros grupos que mudam com o sucesso, ou se vendem, Kurt Cobain e cia mantiveram o ritmo e, principalmente a atitude, virtude essencial no rock.

A postura de Cobain no palco era como se o Punk ainda estivesse em plena atividade, encarnado na figura mítica do vocalista.





A rebeldia e a irreverência eram a tônica. Kurt não se deixava seduzir pelo mainstream. Mas não perverter seus ideais pode cobrar um preço muito alto em algum momento. 

Nas apresentações, o vocalista se tornava mais arredio. Em uma apresentação no Brasil, durante o extinto Hollywood Rock, foi avisado por João Gordo, do Ratos de Porão, que o nome do evento era o mesmo de um cigarro que patrocinava e financiava o festival. Cobain enlouqueceu no palco, deu uma demonstração clara de insatisfação, inclusive com a Globo, que exibia o show. Quebrou tudo, cuspiu na câmera de TV e fez movimentos pélvicos, provocativos a quem estivesse assistindo.

Performances como esta se tornaram comuns, como a polêmica apresentação em Roma, no mesmo ano. Mais Punk, impossível. Mas, Kurt estava se desgastando.





Em 1994, após sucessivas tentativas de Corteney Love, sua mulher e dos integrantes da banda em demovê-lo dos vícios, Kurt Cobain se isolou em sua casa em Seattle.

Foi encontrado morto no local dias depois, com um tiro auto-inflingido de espingarda na cabeça. O mundo do rock amanheceu aquele dia mais triste.

Ele sempre rejeitou o título de “voz de uma geração”, assim como fez Renato Russo, no Brasil. Ambos sabiam do fardo pesado que isso acarretaria. 

Ainda assim, Cobain com sua banda levou o rock de garagem, com sua rebeldia e inconformismo a um patamar que o Punk não conseguiu. O estilo foi aceito pelo sistema, sem se vender ao mesmo.



Outras bandas vieram na mesma época do Nirvana; grupos talentosos também, como Soundgarden, Black Crows, Alice in Chains e Pearl Jam

Mas igual ao grupo liderado por Kurt Cobain, não aparecerá tão cedo.




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