Sobre a vida e obra de
Stallone é possível análises sob vários prismas diferentes. O
rapaz pobre que fez de tudo para ser ator; o menino que sofreu em
lares adotivos enquanto os pais brigavam; a criança que tinha uma
paralisia em partes do rosto, sequela
devido uso indevido de instrumentos durante o parto; o
jovem que buscava afirmação em um mundo confuso.
Mas qualquer que seja a
avaliação sobre sua trajetória, Sly (seu apelido em Hollywood)
pode ser taxado como um homem a serviço do sistema.
Sua vida peculiar já dava
sinais de dificuldades à vista, devido a sua origem humilde. Em seu
momento mais agudo, a falta de dinheiro o levou ao cinema erótico,
último refúgio para os atores desvalidos. E foi com The Party at
Kitty and Stud’s (1970), mais tarde relançado como “O Garanhão
Italiano”, que Sylvester começou sua jornada cinematográfica.
Obcecado com lutas de boxe
(sua mãe era promotora de luta livre feminina) teve sua primeira
ideia para um roteiro, quando viu a luta de Muhammad Ali contra Chuck
Wepner. Na prática, ele plagiou o evento daquela noite. Vendeu a
história para os estúdios, com a condição de ser ele o
protagonista e violá. Um sucesso mundial, inesperado e com
surpreendentes dez indicações ao Oscar, inclusive, melhor filme,
roteiro original (??) e ator. Foi eleito o melhor filme do ano pela
Academia, o que era compreensível, dado o momento depressivo que o
país atravessava (vinha da humilhante derrota no Vietnã); portanto
tudo que enaltecesse o “sonho americano” e ajudasse a maquiar o
que acontecera na guerra, melhor.
Mas olhando com mais
profundidade a produção --que destoa do que realmente aconteceu,
afinal, Muhammad Ali foi à lona duas vezes, mas venceu seu
oponente-- Stallone denota seu racismo inveterado, impondo a
supremacia branca, acima de tudo. Duvida? Bom, em Rambo 2, 3 e Rocky
Balboa, a versão mais recente da franquia, qual era a cor dos
oponentes de Rocky? E quais foram os resultados das lutas, mesmo?
Sly gostou de ser estrela.
Até arriscou outros projetos, com menor visibilidade, mas o foco era
a superprodução. Foi quando ele descobriu outra mina de ouro:
Rambo, baseado nos livros First Blood, narrando o amargor de um
veterano desprezado pelo seu próprio país. O ator conseguiu fazer
uma película digna de elogios, com uma atuação sem exageros. A
direção de Ted Kotcheff e a trilha sonora de Jerry Goldsmith são
outros atrativos. Crítica a ingratidão de um país que apoia seus
soldados irem às guerras impor “democracia e liberdade” (como se
americano soubesse o que isso realmente significa), mas que cospe em
suas caras quando retornam derrotados dos conflitos. Nesse quesito, o
filme é preciso. Atinge a jugular do establishment
sem rodeios. O problema foram as continuações.
(Stallone com a então esposa, Brigitte Nielsen, Ronald e Nancy Reagan)
Sylvester
achou mais um caminho rentável a ser explorado. Começou uma nova
franquia, menos criativa e inteligível e mais lucrativa. Rambo 2
mostra o típico soldado americano, durão, implacável, solitário e
invencível, ganhando a guerra sozinho, a mesma que um país inteiro
perdeu. Mas esse delírio
agradou os fãs. O maniqueísmo sequer foi percebido pelo espectador
comum. Nem o uso da produção para fazer propaganda da administração
Reagan, uma das mais retrógradas e conservadoras das últimas
décadas nos EUA. Foi quando a Guerra Fria recrudesceu entre os
americanos e os soviéticos. E era a este sistema viciado e bélico
que Stallone emprestou seu nome e seus filmes. O mesmo ocorrera na
segunda continuação. Rambo 3 mostra uma
nação escolhida
por deus, vencendo os demoníacos russos no Afeganistão. Mas ignora
momentos históricos, como a criação da Al-Qaeda e o financiamento
de Bin Laden pelos Estados
Unidos. O público não se
importava com isso. Queriam ver seu país ganhar da, então, União
Soviética em mais uma produção.
A
mesma ladainha já havia sido mostrada, de maneira mais tosca e
declarada em Rocky 4. Sly dava um tempo em sua demonstração pública
de racismo, para se tornar garoto propaganda, porta-voz
de Ronald Reagan e sua
presidência cheirando a radicalismo crônico.
Mais uma vez, um ator vendendo seus serviços ao governo. Então
a trilogia (Rambo 2, Rocky 4 e Rambo 3) norteavam o americano médio,
uma espécie de Homer Simpson de carne e osso, alienado, viciado em
TV, esportes e xenófobo. Aquele tipo específico de cidadão que
hasteia a bandeira todos os dias, tem orgulho em
cantar o hino nacional antes dos eventos esportivos, acha que
“América” é apenas um país (o dele), e não um continente
inteiro e defende as intromissões dos
EUA em outras nações. Nesse
campo, Sylvester Stallone se tornou palatável ao sistema, ajudando a
manipular pessoas menos privilegiadas intelectualmente, pregando a
eterna obediência civil e carimbando o conceito de que tudo oriundo
do Tio Sam não podia ser questionado.
Sly
é um vitorioso, sem dúvida. Mas poderia ter comprometido menos sua
vida profissional se tivesse se tornado mais ator e menos político.
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