domingo, 24 de novembro de 2013

Sylvester Stallone, um Ator a Serviço do Sistema





Sobre a vida e obra de Stallone é possível análises sob vários prismas diferentes. O rapaz pobre que fez de tudo para ser ator; o menino que sofreu em lares adotivos enquanto os pais brigavam; a criança que tinha uma paralisia em partes do rosto, sequela devido uso indevido de instrumentos durante o parto; o jovem que buscava afirmação em um mundo confuso.

Mas qualquer que seja a avaliação sobre sua trajetória, Sly (seu apelido em Hollywood) pode ser taxado como um homem a serviço do sistema.



Sua vida peculiar já dava sinais de dificuldades à vista, devido a sua origem humilde. Em seu momento mais agudo, a falta de dinheiro o levou ao cinema erótico, último refúgio para os atores desvalidos. E foi com The Party at Kitty and Stud’s (1970), mais tarde relançado como “O Garanhão Italiano”, que Sylvester começou sua jornada cinematográfica.

Obcecado com lutas de boxe (sua mãe era promotora de luta livre feminina) teve sua primeira ideia para um roteiro, quando viu a luta de Muhammad Ali contra Chuck Wepner. Na prática, ele plagiou o evento daquela noite. Vendeu a história para os estúdios, com a condição de ser ele o protagonista e violá. Um sucesso mundial, inesperado e com surpreendentes dez indicações ao Oscar, inclusive, melhor filme, roteiro original (??) e ator. Foi eleito o melhor filme do ano pela Academia, o que era compreensível, dado o momento depressivo que o país atravessava (vinha da humilhante derrota no Vietnã); portanto tudo que enaltecesse o “sonho americano” e ajudasse a maquiar o que acontecera na guerra, melhor.



Mas olhando com mais profundidade a produção --que destoa do que realmente aconteceu, afinal, Muhammad Ali foi à lona duas vezes, mas venceu seu oponente-- Stallone denota seu racismo inveterado, impondo a supremacia branca, acima de tudo. Duvida? Bom, em Rambo 2, 3 e Rocky Balboa, a versão mais recente da franquia, qual era a cor dos oponentes de Rocky? E quais foram os resultados das lutas, mesmo?

Sly gostou de ser estrela. Até arriscou outros projetos, com menor visibilidade, mas o foco era a superprodução. Foi quando ele descobriu outra mina de ouro: Rambo, baseado nos livros First Blood, narrando o amargor de um veterano desprezado pelo seu próprio país. O ator conseguiu fazer uma película digna de elogios, com uma atuação sem exageros. A direção de Ted Kotcheff e a trilha sonora de Jerry Goldsmith são outros atrativos. Crítica a ingratidão de um país que apoia seus soldados irem às guerras impor “democracia e liberdade” (como se americano soubesse o que isso realmente significa), mas que cospe em suas caras quando retornam derrotados dos conflitos. Nesse quesito, o filme é preciso. Atinge a jugular do establishment sem rodeios. O problema foram as continuações.

       (Stallone com a então esposa, Brigitte Nielsen, Ronald e Nancy Reagan)


Sylvester achou mais um caminho rentável a ser explorado. Começou uma nova franquia, menos criativa e inteligível e mais lucrativa. Rambo 2 mostra o típico soldado americano, durão, implacável, solitário e invencível, ganhando a guerra sozinho, a mesma que um país inteiro perdeu. Mas esse delírio agradou os fãs. O maniqueísmo sequer foi percebido pelo espectador comum. Nem o uso da produção para fazer propaganda da administração Reagan, uma das mais retrógradas e conservadoras das últimas décadas nos EUA. Foi quando a Guerra Fria recrudesceu entre os americanos e os soviéticos. E era a este sistema viciado e bélico que Stallone emprestou seu nome e seus filmes. O mesmo ocorrera na segunda continuação. Rambo 3 mostra uma nação escolhida por deus, vencendo os demoníacos russos no Afeganistão. Mas ignora momentos históricos, como a criação da Al-Qaeda e o financiamento de Bin Laden pelos Estados Unidos. O público não se importava com isso. Queriam ver seu país ganhar da, então, União Soviética em mais uma produção.



A mesma ladainha já havia sido mostrada, de maneira mais tosca e declarada em Rocky 4. Sly dava um tempo em sua demonstração pública de racismo, para se tornar garoto propaganda, porta-voz de Ronald Reagan e sua presidência cheirando a radicalismo crônico. Mais uma vez, um ator vendendo seus serviços ao governo. Então a trilogia (Rambo 2, Rocky 4 e Rambo 3) norteavam o americano médio, uma espécie de Homer Simpson de carne e osso, alienado, viciado em TV, esportes e xenófobo. Aquele tipo específico de cidadão que hasteia a bandeira todos os dias, tem orgulho em cantar o hino nacional antes dos eventos esportivos, acha que “América” é apenas um país (o dele), e não um continente inteiro e defende as intromissões dos EUA em outras nações. Nesse campo, Sylvester Stallone se tornou palatável ao sistema, ajudando a manipular pessoas menos privilegiadas intelectualmente, pregando a eterna obediência civil e carimbando o conceito de que tudo oriundo do Tio Sam não podia ser questionado.




Sly é um vitorioso, sem dúvida. Mas poderia ter comprometido menos sua vida profissional se tivesse se tornado mais ator e menos político.

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