Se há momentos de alta-tensão em Hollywood, o dia em que as produções são indicadas ao Oscar é um destes. Após isso, as apostas e especulações (somado ao retrospecto dos filmes em outros festivais que antecedem a premiação da Academia) correm soltas. Nesse ano não poderia ser diferente.
BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA) - Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Entretanto, em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough), Riggan precisa lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente.
Como melhor filme do ano BIRDMAN desponta como favorito. O que parece um contrasenso, já que Hollywood não gosta de se ver nas telas. A lenda sempre funcionou na vida real, já que produções que criticam o 'status quo' cinematográfico nunca se deram bem.
AMERICAN SNIPER – É a adaptado do livro American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Militar History; este filme conta a história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), um atirador de elite das forças especiais da marinha americana. Durante cerca de dez anos, ele matou mais de 150 pessoas, tendo recebido diversas condecorações por sua atuação.
O filme empolga, a direção é de Eastwood, o que já significa muito e Cooper se entrega de corpo e alma no personagem de sua vida. Mas por mais que o filme tente esconder o ranço imperialista (mostrando seus conflitos e dramas pessoais), ao humanizar o personagem, Clint acaba por mascarar a dura e melancólica verdade: o atirador de elite matou centenas de pessoas, em sua grande maioria mulheres, crianças, idosos. Não há como fugir disso.
BOYHOOD - DA INFÂNCIA À JUVENTUDE - O filme conta a história de um casal de pais divorciados (Ethan Hawke e Patricia Arquette) que tenta criar seu filho Mason (Ellar Coltrane). A narrativa percorre a vida do menino durante um período de doze anos, da infância à juventude, e analisa sua relação com os pais conforme ele vai amadurecendo.
A direção e a forma com a qual o filme é realizado é único na história do cinema contemporâneo. E isso já vale o ingresso. Filmado entre 2002 e 2014, a produção acompanha o crescimento dos atores mirins mas também dos atores profissionais (Arquette e Hawke), já que ambos são peças fundamentais na trama. O elenco se reunia cerca de 50 dias por ano. Filmavam tudo o que era possível e aguardavam a próxima temporada para dar continuidade. A novidade é o que mais atrai, o roteiro é diferente, mas excetuando-se a atuação do casal profissional e do garoto prodígio (Coltrane), há poucas chances de brilhar nas principais categorias.
O GRANDE HOTEL BUDAPESTE - No período entre as duas guerras mundiais, o famoso gerente de um hotel europeu conhece um jovem empregado e os dois tornam-se melhores amigos. Entre as aventuras vividas pelos dois, constam o roubo de um famoso quadro do Renascimento, a batalha pela grande fortuna de uma família e as transformações históricas durante a primeira metade do século XX.
Apesar do elenco estelar (Jude Law, Tilda Swinton, F. Murray Abraham, Harvey Keitel, Mathieu Amalric, Saoirse Ronan, Bill Murray, Owen Wilson, Edward Norton, Jeff Goldblum, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Bob Balaban, Tom Wilkinson e Willem Dafoe), a produção não obteve nenhuma indicação nas categorias de ator e atriz. Mas Wes Anderson, sim, como diretor e roteirista.
O JOGO DA IMITAÇÃO - Esta biografia de Alan Turing (Benedict Cumberbatch) acompanha sua ascensão no mundo da tecnologia, quando seus conhecimentos inestimáveis em matemática, lógica e ciência da computação contribuíram com as estratégias usadas pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, este homem tinha diversos conflitos com sua própria homossexualidade, buscando soluções de cura, e vindo a cometer suicídio em 1954.
Correndo por fora, mas com alguma chance nas categorias de ator e diretor. Como roteiro adaptado tem mais chances.
SELMA - Cinebiografia do pastor protestante e ativista social Martin Luther King, Jr (David Oyelowo), que acompanha as históricas marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana.
Elenco, direção e roteiro funcionam muito bem nessa produção que optou por nomear o filme com o nome da cidade onde se originou a passeagta de King e seus seguidores, dando um toque diferente na abordagem de sua trajetória.
A TEORIA DE TUDO - Baseado na biografia de Stephen Hawking, o filme mostra como o jovem astrofísico (Eddie Redmayne) fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide (Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa, quando ele tinha apenas 21 anos.
Impossível não se maravilhar com essa produção cujo mérito maior foi de ter atores que pudessem compor seus personagens de maneira mais próxima da realidade. É aí que se destaca a atuação de Redmayne), talvez quem possa fazer sombra a Keaton na noite da premiação.
WHIPLASH - EM BUSCA DA PERFEIÇÃO - O solitário Andrew (Miles Teller) é um jovem baterista que sonha em ser o melhor de sua geração e marcar seu nome na música americana como fez Buddy Rich, seu maior ídolo na bateria. Após chamar a atenção do reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher (JK Simmons), Andrew entra para a orquestra principal do conservatório de Shaffer, a melhor escola de música dos Estados Unidos. Entretanto, a convivência com o abusivo maestro fará Andrew transformar seu sonho em obsessão, fazendo de tudo para chegar a um novo nível como músico, mesmo que isso coloque em risco seus relacionamentos com sua namorada e sua saúde física e mental.
O azarão da corrida tem mais chances de ganhar um Oscar para a ótima atuação de Simmons, como ator coadjuvante.
FILME ESTANGEIRO – Citando os que tem mais chances.
LEVIATÃ - Numa península do Mar de Barents, no Ártico, um pai de família (Aleksey Serebryakov) luta contra os desmandos de um prefeito corrupto. Para enfrentar o político que tenta desalojá-lo, ele recorre a um colega de Moscou.
O que pode ajudar o filme é a boa e velha politicagem de Hollywood, a serviço do sistema. Como nas entrelinhas a produção critica a administração de Vladmir Putin, é capaz de ter alguma chance.
RELATOS SELVAGENS - Diante de uma realidade crua e imprevisível, os personagens deste filme caminham sobre a linha tênue que separa a civilização da barbárie. Uma traição amorosa, o retorno do passado, uma tragédia ou mesmo a violência de um pequeno detalhe cotidiano são capazes de empurrar estes personagens para um lugar fora de controle.
Repare que quando se fala de bons filmes sulamericanos, se fala, obrigatoriamente sobre o cinema argentino. E, conseguinte, do ator Ricardo Darín, um dos melhores atores da atualidade.
Se tudo correr bem, dentro da normalidade (quesitos artísticos) o filme é barbada.
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