sexta-feira, 28 de março de 2014

O MUNDO É UMA OBRA DE ARTE - PARTE 2






                        (Banff National Park, Alberta, Canada)





                      (Giant’s Causeway in Northern Ireland)






                    (Lyth Valley, Lake District – Cumbria, Inglaterra)






                    (Marble Caves, Patagonia.)






                    (Monument Valley Tribal Park – Arizona, Utah)






                    (Ngorongoro-crater-Tanzânia)






                    (Rice terraces – Longsheng, China)






                    (South Tyrol, Itália)






                    (Aurora Boreal - Kiruna, Suécia)






                    (Grand Canyon - EUA)





            (Victoria Falls, no rio Zambezi entre Zâmbia e o Zimbabwe)






           (Wuhua Hai, ou Five Flower Lake, China)



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O Mundo é uma Obra de Arte




segunda-feira, 24 de março de 2014

SPIELBERG E A INFANTILIZAÇÃO DO CINEMA AMERICANO



O cinema americano sempre foi comercial. Com exceções, sempre almejou as bilheterias. Afinal, Hollywood é um empreendimento. Mas nesse lucrativo negócio, sempre houve espaço para o experimental, para o diferente. 

Isso até Steven Spielberg entrar na parada. 



Depois de dois curta metragens, ele estreou no cinema de maneira brilhante com  ENCURRALADO. Longa elogiadíssimo pela crítica, também foi sucesso de público. Seu filme seguinte, LOUCA ESCAPADA mostrou que o jovem diretor realmente tinha talento e veio para ficar. 

Mas foi com sua produção seguinte que as coisas no cinema dos EUA mudariam para sempre. TUBARÃO (JAWS) foi um estrondoso arrasa quarteirão (vulgo, blockbuster). Mas a forma como isso aconteceu é que chama a atenção.



A agressiva campanha de marketing em todos meios de comunicação, o trailer criativo e sua divulgação em todos os canais mexeram com o imaginário do público. Os custos foram relativamente baixos, mas o lucro foi astronômico: mais de meio bilhão de dólares. Um recorde para os idos de 1975.

Mas a produção foi um divisor de águas. Mostrou o caminho fácil para se lucrar grandes somas. Spielberg foi o precursor, seguido depois pelo amigo George Lucas, responsável por infantilizar a ficção científica com seu dramalhão mexicano (“Luke, eu sou seu pai”) STAR WARS. 



JAWS também agradou os integrantes da academia: foi indicado a melhor filme, mas venceu nas categorias técnicas de melhor trilha sonora, melhor montagem e melhor som.

A partir daquele momento, os produtores deram preferência pelo caminho mais fácil. Películas que fossem apostas certas e que seguissem certos clichês dariam o tom. E com o passar dos anos , as coisas pioraram.



Comparando com as décadas anteriores, no século XXI pouco se produziu dramas em Hollywood. Gênero que serve de plataforma para os verdadeiros atores/atrizes mostrarem seus talentos, assim como roteiristas e diretores. A essência de interpretar reside nos dramas.

Com a aposta em superproduções, a quantidade de filmes realizados claramente diminuiria. Se até os anos 90 eram realizados cerca de 300 filmes por ano nos Estados Unidos, em 2011 esse número chegou à 95.

Uma produção não pode faturar menos de 250 milhões, caso contrário será considerado um fracasso; principalmente devido aos elevados custos. 



Um filme como HOMEM DE FERRO 3 teve um custo orçado em 200 milhões. Só o salário de Robert Downey Jr (Tony Stark), entre salário e participação na bilheteria, chegou quase a 20% desse total. Se o filme não render, no mínimo o triplo, será considerado um fracasso.

Antes os espectadores americanos eram mais sofisticados, mais exigentes. Hoje, na era de TRANSFORMES e VELOZES E FURIOSOS tudo se torna palatável ao sistema. Não há mais o senso crítico de outrora.

Filmes que as vezes ficavam em cartaz por meses, atualmente fica de 5 a 7 semanas, para logo a seguir ser substituído por outro. Nos anos 80, a película 9 E MEIA SEMANAS DE AMOR chegou a ficar 18 meses em exibição em São Paulo.

A palavra de ordem é investir em produções que possam ser facilmente digeridas pelo grande público e com sequências a granel. Aí, pega-se uma ideia, que já não é das mais inovadoras e estica-se a piada por duas, três ou até cinco continuações. 

Usando as redes sociais para fomentar a divulgação dos filmes, os estúdios de Hollywood pretendem cativar, acima de tudo, o público jovem, principal público-alvo e o que melhor faz a propaganda '‘boca a boca’'.

E com a predominância dos blockbusters e o consequente emburrecimento dos espectadores, a criatividade sucumbiu. Tanto que muitos artistas têm buscado outras alternativas, como a TV.

Se para se realizar um filme os roteiristas devem se curvar aos ditames hollywoodianos, nas emissoras de televisão, o controle criativo por parte dos autores originais é muito maior. Alguns conseguem manter poder total sobre suas obras, como no caso de Vince Gilligan com seu fenômeno BREAKING BAD.



Os resultados têm agradado e a busca pelo que é inovador aumentou. Se ainda há o lugar-comum, com séries previsíveis e enfadonhas, as emissoras de TV a cabo (HBO, AMC, Showtime, STARZ) tem obrigado os canais tradicionais (ABC, NBC, CBS, FOX) a saírem da mesmice e buscarem roteiros mais elaborados. 



A concorrência se acirrou ainda mais com a chegada ao mercado da Netflix, que já oferecia serviço de TV por Internet, e que conta com mais de 44 milhões de assinantes em mais de 40 países com um acervo de mais de um bilhão de horas de filmes e séries. Mas que optou por gerar conteúdo próprio com seriados que fogem do tradicional como HOUSE OF CARDS e ORANGE IS THE NEW BLACK.



Talvez a TV consiga reensinar Hollywood a ser criativa novamente. Há cerca de 40 anos, Spielberg encontrou uma estrada lucrativa, que os executivos do show business souberam aproveitar como ninguém. Mas, quando a fonte secar –no momento são as franquias baseadas em histórias em quadrinhos as que mais fazem dinheiro – será necessário se reinventar, voltar aos primórdios do cinema, onde muitas vezes, apenas uma câmera na mão e uma ideia na cabeça já eram suficientes para entreter a plateia, ávida por novidade.




sexta-feira, 21 de março de 2014

Ô da Poltrona...




Não há dúvida que Renato Aragão é um vitorioso. Saiu de uma situação de miséria em uma cidade que pouco ou nada oferecia a ele, e conseguiu achar a sorte numa cidade grande (Rio) para demonstrar seu talento inegável.



Esteve à frente das três formações do grupo humorístico Os Trapalhões, sendo a segunda, a melhor e insuperável até hoje com Mussum, Zacarias e Dedé.
Mas tão certo quanto seu carisma e verve artística, também são as polêmicas envolvendo seu nome.


Renato Aragão demite funcionário que o chama de Didi…



Suas desavenças com o restante dos Trapalhões eram notórias. Sempre se achou detentor dos direitos do nome e de sua conseguinte exploração. Renato ganhava bem mais do que os seus três colegas, juntos. Uma hora a casa caiu. Cansados de tentar uma solução pacífica, Dedé Santana junto com Mussum e Zacarias se reuniram com a direção da Globo em busca de solução. Como não veio (a emissora carioca sempre protegeu “Didi” em detrimento a seus parceiros), o jeito foi partir para a carreira independente. De um lado um trapalhão solitário em busca de outros atores para tal intento –chegou-se a comentar que dentre os possíveis escolhidos estariam Sérgio Mallandro e Carlos Moreno, garoto-propaganda da Bombril. De outro, o trio com sua carta de alforria nas mãos, saindo em voo solo. 


Renato Aragão rebate declarações de Dedé Santana



Primeira empreitada da recém-fundada DeMuZa produções foi Atrapalhando a Suate. Renato lançava, em contraposição, seu filme O Trapalhão na Arca de Noé, com Xuxa e Mallandro. Ambos foram fracasso de bilheteria.





Por longos sete meses, Aragão tocou o programa sozinho, além de se manter como redator final. Os índices de audiência começavam a incomodar o canal que pôs um ponto final na cisão entre os integrantes em uma reunião onde houve reajuste de valores, e a exploração da Renato Aragão Produções diminuiu sobre os outros três.


A FARSA DO 'CRIANÇA-ESPERANÇA'



Renato se tornou embaixador da Unicef no Brasil. Seu papel era o de fomentar as doações no programa Criança Esperança. Por muitos anos deu certo e as pessoas doavam sem pestanejar. Mas com a popularização da internet ficou fácil entender que nem tudo que reluz é ouro. E a farsa começou a aparecer.
Exposto também em sua forma rude de tratar seus funcionários diretos (“Didi Não! Pra você é Doutor Renato!”), Aragão se pôs a bancar a vítima, via redes sociais, alegando nunca maltratar empregado seu.
Outra de suas hipocrisias foi criticar duramente os humoristas atuais (indireta pra galera do PORTA DOS FUNDOS) que satirizam as religiões. Um vídeo no Youtube mostra “Didi” escrachando com cultos diferentes, sem o menor pudor. Faça o que eu falo, mas...






Sua insistência em manter um programa nos moldes do anterior –ele não admite, mas foi uma tentativa vergonhosa de reeditar Os Trapalhões-- acabou por desgastá-lo profissionalmente. 
E quando as pessoas passam a enxergar um artista com todas as suas nuances, a tendência é se decepcionar, principalmente quando a celebridade em questão tem um telhado de vidro bem frágil. 

Renato Aragão se notabilizou com o personagem do migrante que é tomado por ingênuo, mas que acaba se perfazendo em cima dos outros. Os Trapalhões, fossem quem fossem, sempre serviram de escada para o seu talento, uma forma egoística de crescimento profissional. Dedé Santana sempre disse isso, publicamente. Só foi obrigado a se retratar, para retornar à Rede Globo. O que não muda os fatos sobre Renato Aragão.


Renato Aragão, o mais novo desafeto dos Cristãos



Ainda assim, seu talento sempre foi imenso, assim como seu ego. Que o diga os remanescentes do humorístico que o alçaram a fama.
Pra quem sempre pregou a simplicidade e a humildade com seu personagem único, “Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo”, Renato destoa completamente de sua obra. Isso que é atuar.


quinta-feira, 13 de março de 2014

STANLEY KUBRICK, O GÊNIO INDOMÁVEL - PARTE 2




O ILUMINADO, um clássico do terror, referência até hoje para os amantes do gênero, não era tão clássico enquanto existia apenas o livro de Stephen King. Stanley Kubrick fez isso. 

O título foi inspirado em uma música de John Lennon chamada "Instant Karma!", que contém a frase "We all shine on…". Stephen King quis originalmente dar o nome ao livro de "The Shine", mas mudou o nome quando percebeu que "shine" era gíria pejorativa para negros. Esse foi o terceiro livro de Stephen King e primeiro best-seller em capa-dura. 




King nunca gostou da versão do diretor; disse que sua obra foi profundamente modificada. Kubrick não queria adaptar fielmente. Ele via o potencial da história, mas que, também, tinha suas limitações. O seu gênio criativo fez com que o enredo fosse permeado de inúmeras sutilezas, infinitas possibilidades de enxergar uma mesma coisa. O livro segue uma linha reta. O filme tem um bocado de paralelas e perpendiculares a acompanhar.




Ele queria realizar o melhor filme de ficção de todos os tempos. Fez 2001. Uma das melhores películas sobre guerra: Glória feita de Sangue. O maior épico: Spartacus. Faltava a maior e melhor produção de terror de todos os tempos. Faltava.




Para tentar desqualificar a realização de Kubrick, Stephen King adaptou seu próprio livro nos anos 90, mas em forma de minissérie para a TV americana. Desta feita, extremamente fiel ao livro; e incrivelmente enfadonho. Todos já conheciam a versão do famoso diretor. A comparação foi inevitável. Infelizmente, pouco favorável ao escritor e criador da mitologia do livro.




Já na película, tudo o que se conhecia sobre filmes de horror e suspense caíra por terra. O mal não estava encarnado. Também não era escancarado. Sutil, a princípio, mas que foi se delineando aos poucos, numa atmosfera claustrofóbica.




Jack Nicholson, com seu olhar satânico e seus trejeitos assustadores, nunca mais foi o mesmo. Pergunto-me o que seria do ator Heath Ledger, que interpretou o Coringa na trilogia Batman, se fosse dirigido por alguém perfeccionista e extremamente detalhista como Kubrick, que leva um ator a repetir, exaustivamente, a mesma cena 100 vezes –fez isso com Nicholson.




Sua genialidade faz do enredo algo grandioso. O livro é ótimo, mas o filme é primoroso. O estereótipo era evidente para quem leu, mas não para quem assistiu. Além de ser prova cabal de que um filme pode ser infinitamente superior ao livro. 

Recheado de referências e sutis detalhes, O ILUMINADO até hoje suscita debates, chegando até a gerar um documentário falando sobre os bastidores e os pormenores que Kubrick deixa, propositalmente, na tela, esperando ser decifrado. Vale conferir QUARTO 237. Foi realizado por amantes da sétima arte e cada um com sua visão peculiar e suas teorias de conspiração sobre a obra.




Depois de O Iluminado realizado em 1980, Kubrick deu uma (longa) pausa, como era usual, em sua carreira. 
Voltou em 1987 com o polêmico NASCIDO PARA MATAR. O roteiro é baseado em romance de Gustavo Horsfordita, The Short Times. É considerado um dos grandes filmes sobre a guerra do Vietnã, junto com Platoon e Apocalipse Now e um dos melhores filmes do cinema da década de 1980, com uma posição que pode ser interpretada como sendo antiguerra. Mostra a desumanização da sociedade e o conseguinte culto a violência, como forma de dominação plena.

Com excelentes interpretações, um roteiro contundente e a sempre magistral direção de Kubrick, o filme só não foi o sucesso que se esperava, porque foi lançado meses após PLATOON, de Oliver Stone, que causou frisson e colecionou prêmios, entre eles 4 Oscars, incluindo o de melhor produção.




Apenas 12 anos depois, é que Stanley realizou outro filme. DE OLHOS BEM FECHADOS é estrelado pelo então casal na vida real Nicole Kidman e Tom Cruise e baseado no conto Traumnovelle, de Arthur Schnitzler. Conta a história do médico Bill Harford que decide ir em busca de uma aventura sexual depois de sua esposa Alice admitir que sentiu desejos por outro homem. Ao longo de uma noite, Bill acaba encontrando com uma orgia organizada por um culto secreto.




Talvez por já estar com a saúde debilitada, talvez pelo casal escolhido para os papéis principais, ou pela adaptação do libro em si, o certo é que o público não foi tão receptivo. A crítica aprovou, seguindo o caminho inverso das outras vezes, quando Kubrick lançava uma película e já caiam matando. Isso incluiu 2001, SPARTACUS e LARANJA MECÂNICA. Mas os espectadores captavam bem melhor do que os profissionais de cinema, com suas visões tacanhas. 

Mais uma produção difícil que durou quase dois anos para ser concluída, devido ao perfeccionismo do diretor, e mais um ano para o trabalho de pós produção. Stanley Kubrick faleceu apenas 5 dias depois de concluir a edição final do filme, em 7 de março de 1999. 
Ele deixou um projeto pendente, chamado I.A. – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. Como era algo em que Kubrick já havia demonstrado interesse, o roteiro teve continuidade, mas nas mãos de Steven Spielberg, acostumado a infantilizar temas adultos, em prol de uma polpuda bilheteria. O resultado ficou evidente quando a produção, encabeçada por Haley Joel Osment e Judy Dench, chegou aos cinemas: decepção.
Todos sabiam que uma história interessante como esta teria uma versão completamente diferente de Stanley.




Após março de 1999, o cinema ficou mais pobre. As produções mais intercambiáveis e as ousadias poucas. Num mundo do faz de conta como o cinema, uma pessoa como Kubrick deixa uma lacuna impossível de ser preenchida. 




Mas também a prova cabal de que, um diretor com apenas 13 filmes no currículo, pode ser diferenciado e trafegar em todos os gêneros com a mesma maestria. 
Tivéssemos mais dois ou três como Stanley Kubrick por aí, e o cinema não estaria assim vivendo dias de “mais do mesmo”.



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STANLEY KUBRICK, O GÊNIO INDOMÁVEL - PARTE 1



segunda-feira, 10 de março de 2014

Série Grandes Autores - Simone Weil



    Autora de clássicos como Opressão e Liberdade e A Condição Operária, Simone Weil ousou reescrever as teses do comunismo de Marx e Eangles, de maneira crítica, mostrando seus pontos falhos e o porque da dificuldade em implementá-lo na sociedade como um todo.

Tendo, ela mesma, sido operária metalúrgica, pôde compreender melhor que o planejamento da produção estaria para cair nas mãos do proletariado, mais cedo ou mais tarde, como fato inevitável. 



Mulher à frente de seu tempo lutou na guerra civil Espanhola ao lado dos republicanos, e na Resistência Francesa
em Londres.  

Era chamada de a "Virgem Vermelha" por suas alunas, em uma escola secundária onde dera aulas no início dos aos 30, quando disse que 'o mundo é o local ideal para o intelectual estar', numa alusão ao momento efervescente na política global naquele momento.

Em 1940 vai para Marselha, devido a invasão nazista na França. Lá descansava em um saco de dormir e escrevia muito (e com propriedade) sobre o mundo ao  seu redor, questionando o nazismo, o fascismo e o stalinismo.



Em 1942 emigra para os EUA e, ao voltar colabora novamente com a resistência, oferecendo-se como paraquedista para ajudar num ataque contra a Alemanha. Chegou a dizer repetidas vezes que não tinha o direito de comer mais do que seus camaradas na França ocupada, e por isso deixou-se passar fome até que teve de ser hospitalizada. 

Em abril de 1943 recebeu o diagnóstico de tuberculose. Enviada para um sanatório no campo, recusou-se a se alimentar, insistindo que suas refeições deveriam ser mandadas para os franceses. Morreu aos 34 anos de idade de parada cardíaca em Ashford, Kent. Uma rua da cidade foi batizada com o seu nome.

Foi uma escritora talentosa, uma mulher além de seu tempo, politizada e preocupada com causas humanitárias. Seu legado são seus livros, mas também sua postura de nunca se calar diante das injustiças do mundo, sempre se preocupando com o próximo primeiro, depois consigo mesma.


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Bette Davis, uma Mulher à Frente de seu Tempo






quinta-feira, 6 de março de 2014

STANLEY KUBRICK, O GÊNIO INDOMÁVEL - PARTE 1




Ele era mais que um simples diretor de cinema. Era gênio, absoluto do cinema mundial; mesmo com uma filmografia reduzida, se comparada à de outros colegas diretores.

Kubrick era capaz de realizar obras-primas, que eram desafiantes do ponto de vista intelectual. Não tão somente películas, mas uma experiência artística sem precedentes. Suas produções dificilmente eram lineares. Poucas vezes havia apenas uma linha reta a seguir. 



Fazia filmes para que o espectador fosse levado a pensar, a raciocinar plenamente sobre o que ele acabara de ver e sobre as coisas que o cercam.

O diretor operava com uma invejável liberdade nos sets de filmagem. Tinha total independência e a palavra final sobre pré e pós-produção. Da escolha do elenco aos cartazes de divulgação. Mas nem sempre foi assim. Stanley foi conquistando isso vagarosamente. 

Começou com curta-metragem, mas seu primeiro longa já abordava um de seus tema favoritos: guerra. MEDO E DESEJO falava sobre um grupo de soldados encurralados por trás de linhas inimigas numa guerra fictícia. Depois veio A MORTE PASSOU POR PERTO. Narrado pelo protagonista, o filme conta a história do boxeador fracassado Davey Gordon que se apaixona pela sua vizinha, uma dançarina de salão. A moça (Glória) namora seu patrão e criminoso, Vincent Rapallo, mas deixa este para ficar com o boxeador.

Seus filmes seguintes foram, com o tempo, alçados a condição de clássicos. 

E começou com O GRANDE GOLPE. O film noir descreve os esforços de Johnny Clay (Sterling Hayden) e um time reunido para roubar um hipódromo. O uso de uma cronologia não-linear e múltiplos pontos de vista influenciou muitos cineastas posteriores, tais como Quentin Tarantino. De cara, foi aclamado pela crítica.




GLÓRIA FEITA DE SANGUE, com Kirk Douglas foi a produção seguinte e é, até hoje, um primor. Durante a Primeira Grande Guerra, general francês ordena um ataque suicida contra os alemães, que resulta em tragédia. Para abafar sua participação no incidente, ele escolhe três soldados como bodes expiatórios, julgando-os e condenando-os à morte.




SPARTACUS é um homem que nasceu escravo, labuta para o Império Romano enquanto sonha com o fim da escravidão. Ele, por sua vez, não tem muito com o que sonhar, pois foi condenado à morte por morder um guarda em uma mina na Líbia. Mas seu destino foi mudado por Batiatus, um lanista (negociante e treinador de gladiadores), que o comprou para ser treinado nas artes de combate e se tornar um gladiador. Até que um dia, dois poderosos patrícios chegam de Roma, um com a esposa e o outro com a noiva.
As mulheres pedem para serem entretidas com dois combates até a morte e Spartacus é escolhido para enfrentar o gladiador Draba, que vence a luta mas se recusa a matar seu opositor, atirando seu tridente contra a tribuna onde estavam os romanos. Este nobre gesto custa a vida do gladiador e enfurece Spartacus de tal maneira que ele acaba liderando uma revolta de escravos, que atinge metade da Itália. Kubrick não era o diretor original, mas após uma conturbada relação com o astro do momento (Douglas), Anthony Mann deu lugar a ele. Kirk indicou Stanley pela parceria bem-sucedida em GLÓRIA FEITA…. 




Apesar da guerra de egos, o filme se firmou como referência no cenário mundial. O próprio ator, que detestou o convívio com o diretor, afirmava reconhecer sua genialidade, apesar dos pesares.
LOLITA é um filme de 1962, dos gêneros drama e suspense, dirigido por Stanley Kubrick, que adaptou para as telas o romance de mesmo nome escrito por Vladimir Nabokov. Polêmico como o livro, o filme fez sucesso mais uma vez, de público e crítica.




DR. FANTÁSTICO de 1964, uma comédia de humor negro dirigida por Kubrick. Baseado no romance Red Alert (também conhecido como Two Hours to Doom), um thriller da Guerra Fria de Peter George, o filme satirizou a tensão nuclear vivida pelo mundo à época. Peter Sellers estava em plena forma e, muitos dizem ser sua melhor interpretação.




2001, UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO foi dirigido e produzido por Stanley, coescrito pelo mesmo e Arthur C. Clarke. O filme lida com os elementos temáticos da evolução humana, tecnologia, inteligência artificial e vida extraterrestre. É notável por seu realismo científico, efeitos visuais pioneiros, imagens ambíguas que são abertas a ponto de se aproximarem do surrealismo, som no lugar de técnicas narrativas tradicionais e o uso mínimo de diálogo.
O filme é memorável por sua trilha sonora, resultado da associação feita por Kubrick entre o movimento de satélites e os dançarinos de valsas, o que o levou a usar Danúbio Azul, de Johann Strauss II e o famoso poema sinfônico de Richard Strauss, Also sprach Zarathustra, para mostrar a evolução filosófica do Homem, teorizado no trabalho de Friedrich Nietzsche de mesmo nome.
Apesar de ter sido recebido inicialmente de forma mista, 2001: A Space Odyssey é atualmente reconhecido pela crítica e pelo público como um dos melhores filmes já feitos. Foi indicado a quatro Oscars, recebendo um por melhores efeitos visuais. Em 1991 foi considerado “culturalmente, historicamente ou esteticamente significante” pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos para ser preservado no National Film Registry.




LARANJA MECÂNICA foi adaptado do romance de Anthony Burgess de 1962 com o mesmo nome. Emprega imagens violentas e perturbadoras que estão relacionadas a psiquiatria, delinquência juvenil, gangues de jovens e outros assuntos sociais, políticos e econômicos em uma Inglaterra futurista. Visceral e sem meias palavras, toca nas feridas da sociedade doentia em que se vive. 




BARRY LYNDON foi o menos inspirado filme de Kubrick. Sendo até hoje reconhecido mais por suas qualidades técnicas (figurino, direção de arte, fotografia), a produção parecia ser realizada por um Stanley preguiçoso, que parecia ter alcançado tudo e já não tinha motivação suficiente para ousar mais. 




Mas, eis que, depois de várias tentativas, Kubrick conseguiu os direitos do livro O ILUMINADO, de Stephen King e a história do cinema não foi mais a mesma...





terça-feira, 4 de março de 2014

100 ANOS DE UM GÊNIO




Charles Spencer Chaplin, mais conhecido como Charlie Chaplin (Londres, 16 de abril de 1889 — Corsier-sur-Vevey1 , 25 de dezembro de 1977), foi um ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. Chaplin foi um dos atores mais famosos da era do cinema mudo, notabilizado pelo uso de mímica e da comédia pastelão. É bastante conhecido pelos seus filmes O Imigrante, O Garoto, Em Busca do Ouro (este considerado por ele seu melhor filme), O Circo, Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Grande Ditador, Luzes da Ribalta, Um Rei em Nova Iorque e A Condessa de Hong Kong.



Influenciado pelo trabalho dos antecessores - o comediante francês Max Linder, Georges Méliès, D. W. Griffith Luís e Auguste Lumière - e compartilhando o trabalho com Douglas Fairbanks e Mary Pickford, foi influenciado pela mímica, pantomima e o gênero pastelão e influenciou uma enorme equipe de comediantes e cineastas como Federico Fellini, Os Três Patetas, Peter Sellers, Milton Berle, Marcel Marceau, Jacques Tati, Rowan Atkinson, Harold Lloyd, Buster Keaton e outros diretores e comediantes. É considerado por alguns críticos o maior artista cinematográfico de todos os tempos, e um dos "pais do cinema", junto com os Irmãos Lumière, Georges Méliès e D.W. Griffith.

Foi no estúdio Keystone onde Chaplin desenvolveu seu principal e mais conhecido personagem: O Vagabundo. O Vagabundo é um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro; aparece sempre vestindo um paletó apertado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, e um chapéu-coco; carrega uma bengala de bambu; e possui um pequeno bigode-de-broxa. O público viu o personagem pela primeira vez no segundo filme de Chaplin, Kid Auto Races at Venice, lançado em 7 de fevereiro de 1914 (eis porquê 100 anos de um gênio). No entanto, ele já havia criado o visual do personagem para o filme Mabel's Strange Predicament, produzido alguns dias antes, porém lançado mais tarde, em 9 de fevereiro de 1914.



Desde que foi contratado pela Keystone, Chaplin impôs não apenas o tipo, mas logo em seguida assumiu também o controle dos filmes, da direção ao roteiro. Assim seguiriam as coisas nas outras empresas por que passou: a Essenay, a Mutual e a First National, antes de criar, com Griffith, Douglas Fairbanks e Mary Pickford, a United Artists, a companhia dos próprios artistas que haviam construído a possibilidade de não mais se submeter aos estúdios.

Não demorou para que Carlitos aparecesse como um fenômeno --só a irrupção da Primeira Guerra Mundial retardou uma consagração mundial ainda mais completa-- e constituísse o tipo que o consagrou para sempre: o do vagabundo com ares nobres, caráter forte, contestador da ordem, inimigo do espúrio, amigo das garotas bonitas.


Apesar dos filmes "falados" tornarem-se o modelo dominante logo após serem introduzidos em 1927, Chaplin resistiu a fazer um filme assim durante toda a década de 1930. Ele considerava o cinema uma arte essencialmente pantomímica.
Ele disse:
"A ação é geralmente mais entendida do que palavras. Assim como o simbolismo chinês, isto vai significar coisas diferentes de acordo com a sua conotação cênica. Ouça uma descrição de algum objeto estranho — um javali-africano, por exemplo; depois olhe para uma foto do animal e veja como você fica surpreso".



Durante o avanço dos filmes sonoros, Chaplin produziu Luzes da Cidade (1931) e Tempos Modernos antes de se converter ao cinema "falado". Esses filmes foram essencialmente mudos, porém possuiam música sincronizada e efeitos sonoros. Indiscutivelmente, Luzes da Cidade contém o mais perfeito equilíbrio entre comédia e sentimentalismo.

Em seus filmes, com seu personagem imortal, ele podia mostrar não só sua solidariedade como o valor do homem oprimido com uma mímica única, em que as roupas serviam aos gestos, e os gestos à expressão facial. Um conjunto harmônico na desarmonia completa das situações em que se envolvia num mundo de força-bruta e das quais se saía com enérgica esperteza e inigualável imaginação.



O primeiro filme falado de Chaplin, O Grande Ditador (1940), foi um ato de rebeldia contra o ditador alemão Adolf Hitler e o nazismo, e foi lançado nos Estados Unidos um ano antes do país entrar na Segunda Guerra Mundial. Chaplin interpretou o papel de Adenoid Hynkel, ditador da "Tomânia", claramente baseado em Hitler e, atuando em um papel duplo, também interpretou um barbeiro judeu perseguido frequentemente por nazistas, o qual é fisicamente semelhante a O Vagabundo. O filme também contou com a participação do comediante Jack Oakie no papel de Benzino Napaloni, ditador da "Bactéria", uma sátira do ditador italiano Benito Mussolini e do fascismo; e de Paulette Goddard, no papel de uma mulher no gueto. O filme foi visto como um ato de coragem no ambiente político da época, tanto pela sua ridicularização do nazismo quanto pela representação de personagens judeus ostensivos e de sua perseguição. Adicionalmente, O Grande Ditador foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator (Chaplin), Melhor Ator Coadjuvante (Oakie), Melhor Trilha Sonora (Meredith Willson) e Melhor Roteiro Original (Chaplin).


Chaplin sabia que Hitler é que imitava o seu bigodinho, e não o inverso. E sabia reduzir Hynkel/Hitler à insignificância, fazendo do humor uma gostosa arma de guerra.

Os últimos dois filmes de Chaplin foram produzidos em Londres: A King in New York (1957) no qual ele atuou, escreveu, dirigiu e produziu; e A Countess from Hong Kong (1967), que ele dirigiu, produziu e escreveu. O último filme foi estrelado por Sophia Loren e Marlon Brando, e Chaplin fez a sua última aparição nas telas. Ele também compôs a trilha sonora de ambos os filmes, assim como a canção-tema de A Countess from Hong Kong, "This is My Song", cantada por Petula Clark, chegando a ser a canção mais popular do Reino Unido na época do lançamento do filme.



Adicionalmente, Chaplin escreveu sua autobiografia entre 1959 e 1963, intitulada Minha Vida, sendo publicada em 1964. Chaplin planejara um filme intitulado The Freak, que seria estrelado por sua filha, Victoria, no papel de um anjo. Segundo Chaplin, ele havia concluído o roteiro em 1969 e foram feitos alguns ensaios de pré-produção, mas foram interrompidos quando Victoria se casou. Além disso, sua saúde declinou constantemente na década de 1970, prejudicando todas as esperanças do filme ser produzido.

De 1969 até 1976, juntamente com James Eric, Chaplin compôs músicas originais para seus filmes mudos e depois os relançou. Compôs a música de seus outros curta-metragens da First National: The Idle Class em 1971, Pay Day em 1972, A Day's Pleasure em 1973, Sunnyside em 1974, e dos longa-metragens The Circus em 1969 e The Kid em 1971. O último trabalho de Chaplin foi a trilha sonora para o filme A Woman of Paris (1923), concluída em 1976, época em que Chaplin estava extremamente frágil, encontrando até mesmo dificuldades de comunicação.




E o gênio, nascido em 1889, nos deixou no Natal de 1977. E o cinema amanheceu mais triste no dia 26...